Aqui já usei quase todo o meu repertório masoquista e desfiz boa parte das minhas ideias comunistas. Esse espaço é meu, mas desejei compartilhá-lo com o mundo, se você faz parte dele...Então seja muito bem vindo(a)!

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Answers

Era numa cidade litorânea que estava seu coração. Sentada à beira mar deixava o fluxo de pensamentos a tomarem. Sofria numa intensidade surreal. Pensava que se a insatisfação fosse ruim o mundo não teria sido mundo. Foram os insatisfeitos que mudaram, sim mudaram o mundo.

E eu começo em mim.

Meu mundo é, sem dúvida, reconstruído com todo esforço que é preciso para se manter de pé o alicerce que me sustenta.

Reclamo, reclamo muito.

Não me importa o que podem falar a meu respeito. Sei quem sou e isto me basta! Sinto-me suficientemente bem apesar de tantas limitações. Uma ironia. Minha alma é livre, eu sou quem não sou!

Habilidades. Hipocrisia social. Cinismo. A necessidade é minha de repetir esta última palavra. Cinismo. Eis então um moléstia humana comum.

Já pensei se porventura eu poderia ser outra coisa senão o que sou. Não conseguiria, bem como até a presente data não consegui. Se me é aceitável assim ser? Não sei não sei. Por momentos, pois sou feita de pequenos momentos de mim mesma. E me é estranho explicar.

O que me incomoda se torna a mola da insatisfação que me move sempre sempre. Não posso ser mais do que sou hoje. E sinceramente nem sei se gostaria de deixar de Ser-me. Porque sinto um pouco a vida quando olho-me no mundo. Eu, ou mesmo outro alguém como eu.

Talvez quem sabe um dia eu possa me conformar, me permitir ser moldada e me tornar igual. Com a qualidade de mundo e de pessoas existentes não será coisa muito difícil. Contudo espero que não me peçam isto hoje. Hoje não!

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Absurdamente feliz

Estava absurdamente feliz, de uma felicidade que não existe. De onde viera essa tal felicidade? Sim sim era coisa que ela não sabia. Mas desconfiava que era felicidade de criança solta correndo em desventura sem saber do mundo.

Ela descobriu um meio de esquecer aquela dormência que se sente quando se é gente grande. E foi nos sonhos que realizou sua primeira fuga. Fugiu para longe e para nunca mais voltar.

Mas voltou.

E quando deparou-se novamente com a realidade cruel que tinha a enfrentar agora todos os dias...quis chorar, mas esqueceu como se fazia isso.

Lembrou da ingenuidade estúpida de criança e desejou muito voltar a todos aqueles anos coloridos.

Agora já não podia pedir para o relógio parar, o ponteiro correria quer quisesse ela ou não. O único jeito era continuar. Como? é coisa tal que ela não sabia ainda. Mas tentaria repetir essa fuga. Pensou tanto que chega doeu em mim, e tanto mesmo que pariu a criança dentro dela que eu pensei por décadas estar morta. Renasceu a menina naqueles pensamentos desvairados!

Penso que poderia delirar, acho que seria mais interessante um devaneio ou algo parecido. É bom perceber-se diferente, tem um sabor especial. A loucura que não se pega, mas se sente... O desconexo era que era interessante para ela, o problema seria apenas fazê-la acreditar em mim e nessas palavras que não convencem facilmente gente vivo-morta.

Quase


Mau humor genuíno por acordar. E acordar com a sensação de não viver. Sei bem como é e portanto não suporto acordar e ser-me assim inexistente. Ao menos de manhã! Insatisfação mesclada com impossibilidade real de mudança, mudanças aparentemente repentinas.

Ou covardia, poderia ser.

Nunca se sabe se somos nós quem dizemos a verdade ou se são as palavras. São coisas distintas que ainda não descobri.

Alguns dias atrás parei para pensar se de fato as palavras podem realmente expressar tudo o que se sente.

Hoje começo a desacreditar na única verdade absoluta que acreditei por tanto tempo. E talvez a melhor coisa que exista seja esse mistério mesmo que fazem questão de preservar, talvez seja isto que me falta.

Não sei esconder de mim mesma um segredo assim secretamente. Nem disfarço. Nada, nem dor nem alegria, nada. Nunca. Caretas e caras me denunciam. Sentimentos expressos constantemente acabaram tomando o lugar de. E me aborreço. Queria um pouco dessa hipocrisia deslavada, nua.

Cinismo. Sinistro. Desejo sentir medo. Ao menos alguma vez sinceramente preciso falar para. Não consigo ter medo! Eis portanto que sinto raiva, sim sim. Desta maldita dificuldade em sentir o humano em mim. Deveria temer-me, mas nem isto. Porque sobretudo me conheço e sei que nunca passo além daquela linha. E às vezes como é difícil não passar.

A incerteza de tudo me consome, não sei lidar com a dúvida. O quase me deixa louca! E impressionantemente me vi agora como alguém que adora viver sobre esse quase. Logo eu que tanto falo do masoquismo de alguns humanos. Estranho. Bizarro mesmo é depois de tudo isso ainda não me sentir completamente humana.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Não estou pensando em nada

Não estou pensando em nada

E essa coisa central, que é coisa nenhuma,

É-me agradável como o ar da noite,

Fresco em contraste com o Verão quente do dia.

Não estou pensando em nada, e que bom!

Pensar em nada

É ter a alma própria e inteira.

Pensar em nada

É viver intimamente

O fluxo e o refluxo da vida...

Não estou pensando em nada.

É como se me tivesse encostado mal.

Uma dor nas costas, ou num lado das costas.

Há um amargo de boca na minha alma:

É que, no fim de contas,

Não estou pensando em nada,

Mas realmente em nada,

Em nada...

(Poesias de Álvaro de Campos).

Amor e perseguição

"As pessoas ficam procurando o amor como solução para todos os seus problemas quando, na realidade, o amor é a recompensa por você ter resolvido os seus problemas." (Norman Mailer)

Copiem. Decorem. Aprendam.

Temos a mania de achar que amor é algo que se busca. Buscamos o amor nos bares, buscamos o amor na internet, buscamos o amor na parada de ônibus. Como num jogo de esconde-esconde, procuramos pelo amor que está oculto dentro das boates, nas salas de aula, nas platéias dos teatros.

Ele certamente está por ali, você quase pode sentir seu cheiro, precisa apenas descobri-lo e agarrá-lo o mais rápido possível, pois só o amor constrói, só o amor salva, só o amor traz felicidade. Há quem acredite que amor é medicamento. Pelo contrário.

Se você está: deprimido, histérico ou ansioso demais, o amor não se aproxima, e, caso o faça, vai frustrar sua expectativa, porque o amor quer ser recebido com saúde e leveza, ele não suporta a idéia de ser ingerido de quatro em quatro horas, como um antibiótico para combater as bactérias da solidão e da falta de auto-estima.

Você já ouviu muitas vezes alguém dizer: "Quando eu menos esperava, quando eu havia desistido de procurar, o amor apareceu". Claro, o amor não é bobo, quer ser bem tratado, por isso escolhe as pessoas que,antes de tudo, tratam bem de si mesmas.

O amor, ao contrário do que se pensa, não tem de vir antes de tudo. Antes de estabilizar a carreira profissional, antes de fazer amigos, de viajar pelo mundo, de curtir a vida. Ele não é uma garantia de que, a partir de seu surgimento, tudo o mais dará certo. Queremos o amor como pré-requisito para o sucesso nos outros setores, quando, na verdade, o amor espera primeiro você ser feliz para só então surgir, sem máscara e sem fantasia.

É esta a condição. É pegar ou largar. Para quem acha que isso é chantagem, arrisco-me a sair em defesa do amor: Ser feliz é uma exigência razoável, e não é tarefa tão complicada.

Felizes são aqueles que aprendem a administrar seus conflitos, que aceitam suas oscilações de humor, que dão o melhor de si e não se autoflagelam por causa dos erros que cometem. Felicidade é serenidade. Não tem nada a ver com piscinas, carros e muito menos com príncipes (ou princesas!) encantados (as).

O amor é o prêmio para quem relaxa. As pessoas ficam procurando o amor como solução para todos os seus problemas quando, na realidade, o amor é a recompensa por você ter resolvido os seus problemas.

Texto extraído do site http://www.sitedoescritor.com.br/

Primeira.

Quando sai de casa a primeira vez acompanhada apenas de mim mesma foi para comprar figurinhas para o meu álbum. Aquelas me parecem que foram as melhores férias que já tive. Sempre me reunia com todos os meus amigos para mostrar as figuras repetidas e trocávamos uns com os outros para ganharmos prêmios.

Lembro-me de como me senti. Era um dia de sol, não havia nuvens no céu, ele estava límpido e ventava pouco. Além da aventura de sair sozinha, eu suava muito, pois fazia bastante calor. Peguei o dinheiro e sai.


Parecia que eu carregava dentro do bolso todo o poder do universo que estavam dissolvidos em quatro moedas de vinte e cinco centavos.

Uma diversão medonha de criança astuciosa. Mas eu não podia mais ser tratada como criança, já estava com 21 anos. E fiquei olhando as pessoas que iam sozinhas na rua, pessoas que deveriam ser independentes também. E me vi pela primeira vez como uma delas. Nunca houve nenhuma sensação que pudesse ultrapassar esta.

Ser grande foi meu sonho. Cresci, meu corpo era de uma jovem, mas minha mente, diziam ser ainda de uma adolescente. Sou portadora de uma rara anomalia. Meus pais me tratam como se eu fosse uma inválida... Talvez eu deva ser, não sei. Não gosto de pensar muito a respeito, sempre me sinto triste.

Tenho agenesia parcial do corpo caloso, esse nome estranho que minha prima ensinou meus pais a falarem. No começo, quando descobriram a doença, disseram que eu poderia ter uma vida normal. Nunca tive, uma grande mentira estavam me dizendo

Quis muito isso, e acreditei. Por tanto tempo acreditei que poderia ser igual a todos. Mas a diferença que eu carrego dentro da minha cabeça nunca me fazia igual. Sempre me olhavam com pena, e até mesmo com um olhar que eu sempre achei besta. Mas eu gostava de me sentir assim, achava que aqueles olhares eram de amor.

Mas um dia percebi que aquilo nunca foi amor. Fiquei decepcionada, queria ter uma vida como todos, desejava casar, ter filhos e direito de sair sozinha quando quisesse. Negaram isso tudo a mim o tempo todo e eu nunca reclamei, pensava que os adultos sabiam o que era melhor para mim.

Quero uma vida de igual para igual. Tenho um corpo caloso reduzido, nem sei o que isso tem demais, mas percebo que sou lenta para fazer as coisas e sempre sempre, esqueço de parar de fazer bisouro. É, parece ridículo, mas é um hábito que não consegui me livrar. Talvez um dia, quem sabe!

Vou começar a estudar este ano, 2010 parece que será melhor para mim. Minha mãe talvez tenha entendido que eu preciso ver pessoas além dela, dos meus primos e do meu pai. Espero que eu aprenda logo muitas coisas e que finalmente eu possa ir sozinha para escola. Tenho muitas conquistas a fazer. Depois virei aqui pessoalmente dizer a todos vocês.

Aguardem o meu retorno!

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Exílio.

Uma parte de mim está exilada. Outra parte submersa na ilha da ignorância de uma cidade que desconheço e rejeito aproximação.

Fadada ao tédio de quem não tem perspectivas recluso-me e isolo meus outros Eu’s de quaisquer experiências, pois as que já tive neste lugar inevitavelmente foram um fiasco.

Sinto-me uma eterna estranha, estranha de mim mesma. E quero, quero o retorno de quem sou.


Preciso respirar outros ares, e me sentir novamente feliz pelos fracassos que porventura eu venha cometer.

Aqui não há fracassos porque não há sonhos nem grandes ambições. Há mentes, sobretudo mentes medíocres e alienadas que em nada me acrescentam.