Aqui já usei quase todo o meu repertório masoquista e desfiz boa parte das minhas ideias comunistas. Esse espaço é meu, mas desejei compartilhá-lo com o mundo, se você faz parte dele...Então seja muito bem vindo(a)!

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Lua Adversa

















Tenho fases, como a lua
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha

Fases que vão e que vêm,
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.

E roda a melancolia
seu interminável fuso!
Não me encontro com ninguém
(tenho fases, como a lua...)
No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua...
E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu...



(Cecília Meireles)

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Idas e vindas

Minha primeira ida obviamente não me recordo, foi à escola; e mãe como adora esse tipo de coisa conta como foi talentosa minha reação, que para surpresa de todos afinal sou a caçula (auto explicativo), não chorei, não tive medo.

Foi preciso apenas que ela explicasse e eu espertinha que era, com meus 1 ano e 7 meses olhei pra trás e dei um tchauzinho pra ela, abandonando-a completamente ali na sua angústia de mãe superprotetora.

A propósito ela sempre conta tal história citando como exemplo o desespero de minha irmã que ao vivenciar a mesma coisa se descabelou, esperneou e deu bastante trabalho pra se calar e se adaptar a nova fase então como estudante.

Era sempre chorosa e aos berros que a pobre coitada tinha de ser deixada à porta da escola. Enquanto eu ia feliz e saltitante, vai ver porque dormia a maior parte do tempo tendo como resultado a reprovação no mesmo ano, é...reprovei o maternal. E pensar que sempre fui uma boa aluna! Hahaha.

Hoje fico a pensar o por que de reações tão distintas (psicologia não se limita aos outros) e não encontro uma resposta que me seja suficientemente boa, ou se a encontro não quero aqui dizê-la. Mas não me aterei a isto no momento...deixarei para uma próxima postagem.

Lembrei-me agora de minha segunda ida quando meu pai resolveu por si (livre e espontânea pressão) deixar nossa casa. Uma parte de mim e delas, foi com ele. A terceira ida simplesmente não aconteceu, não tive terceira ida, pulei direto para a quarta...tive rubéola.

A quarta ida foi minha segunda cirurgia (a 1ª não recordo, era apenas um bebê). O milk shake, os mimos e as manhas todas, as primeiras grandes saudades foram sentidas aí. A quinta, bem... acho que se eu pudesse escolher uma como a melhor, seria esta. Aconteceu quando nos mudamos para morar com a maior pessoa já vista: minha avó.

E foi mágico aquilo tudo! Recordo-me plenamente do sentimento, do dia (numa quarta-feira, 15/01/1997 meu aniversário) exatos 9 anos. Da alegria exasperada que fez meu coração tremular-me toda. Dos móveis sendo transportados, do caminhão baú e voinho, da geladeira que deu trabalho para ser levada, das minhas coisas encaixotadas, de mim mesma que nem quis olhar para trás.

De um apartamento com 3 quartos para uma casa com sótão, colchões de mola, balanço e muito espaço. Vou parando por aqui, isso tudo me trouxe uma nostalgia danada e fiquei às avessas. Continuarei a escrever, prometo! Mas agora é hora de mais uma ida, adeus! ;*


domingo, 20 de junho de 2010

Clairvoyance

Achei que não sentia mais, que não era mais, não existia mais. Deixei-me levar apaticamente por tantos dias que pensei nunca ter sido.
Quando fui surpreendida já nem queria, o sofrimento tinha matado meus desejos.
Resisti inutilmente por um tempo que não sei, e me entristeci porque ouvi a minha alma gritar de medo quando soube do limitado tempo.
Ouvi e vi que esperava, lá no fundo eu ansiava por salvação e chorei pelo que ainda restava de mim e fui então escrever. Escrever o que sentia, cada palavra com sangue, com lágrima, com dor, com medo, sim com muito medo de ser boba, de retornar por completo ao que sempre fui.

E me percebi humana novamente e chorei, chorei muito porque tudo foi tudo foi em 3 meses, bem depressa aqui, e hoje tive que dar tchau sem nem conseguir.
Tive raiva, ciúme, mágoa. De mim, dela. Dela que depois de destruir minha máscara, vai embora assim!
Droga de ciclo, eu gosto é do interminável!
Por que? Porque sou mesmo assim: Tudo ou nada, detesto meio termo.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Bettahs


Criavam peixes. Não porque gostassem, mas porque era o único animal permitido pela avó e dona do lar. A alergia que o simples cheiro de todos os demais bichos causavam se tornava grave a cada crise.
Por um tempo relativamente longo se interessaram por aqueles pobres animais enclausurados de forma tão impiedosa. Iam pescar suas vítimas numa lagoa pertinho de casa fazendo uso dos melhores materiais de pesca que uma criança poderia imaginar: peneiras e escorredores de macarrão!
Foram tricongates, muitos por sinal. Guarus, piabas e quando já tinham se tornado doutores na criação começaram a comprar bettas. E foi um período estimulador, passavam boa parte do dia vigiando os bichanos. Até que um dia, um peixe, justamente o meu peixe, tentou suicídio para não ser comido por um gato. Lançando-se do aquário a quase um metro e meio do chão ficou se debatendo ao que eu rapidamente o socorri.
A culpa tinha sido da gata do meu avô cujo nome recordo-me bem: Caduquinha, que de caduca para matar nada tinha. E descrevendo isso dou risada ao lembrar do meu desespero infantil e da raiva que tive quando descobri que nada dura para sempre, nem mesmo os peixes!
Quase aos prantos minha alma estava, numa aflição danada e na hora não pensei em outra coisa...Lá fui eu com meu peixinho (uma betta leitão) na mão, ela tentando sofregamente sobreviver enquanto eu a afogava em lágrimas e súplicas. É usei toda a minha fé ali, vai ver por isso as montanhas mais tarde nunca se moveriam.
Com veemência pedi a Deus que salvasse aquele meu objeto de amor. E ela coitadinha, já sem fôlego foi posta na água logo após o término do pedido. Embora todos os adultos da casa terem insanamente gargalhado da situação, e de terem feitos críticas fundamentadas em não sei o quê, o meu peixinho não morreu naquele dia, na verdade veio a óbito meses depois após uma cria. Isso é o que dá querer milagre duas vezes!