Aqui já usei quase todo o meu repertório masoquista e desfiz boa parte das minhas ideias comunistas. Esse espaço é meu, mas desejei compartilhá-lo com o mundo, se você faz parte dele...Então seja muito bem vindo(a)!

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Do por que escrevo aqui

“Onde eu me encontro comigo mesma”.

Que profunda declaração recebi ao me perguntar inusitadamente por que precisava manter este blog.

Além deste encontro tão preciso, é nele também que expresso minhas vivências diárias, minhas dores, meus rancores, minhas lutas travadas intempestivamente com a realidade que me cerca. Há por isso quem me critique, me rejeite, me inveje.

Há também quem me ame silenciosamente em gestos, quem me admire com uma nobreza que tenho medo. Sim, medo de por isso mostrar que sou fragilidade, sou sensibilidade. Assim, tenho medo de me revelar por inteiro já que o mistério todo é necessário e acho que perdi, ou nunca tive... não sei, não sei a isso responder.

E me fitar nesse encontro semanalmente, no indizível das palavras malditas e mal escritas aqui, me ajuda a recolher as minhas dores para retalhá-las num texto pequeno de uma hora amarga. Mas também escrevo para minha alegria, para rir docemente das lembranças, e das idiotices indispensáveis à vida.

Escrevo para me falar que eu digo, sim e tenho dito. Não me importam as adaptações, não me importam. Importa o que está implícito nestas silenciosas linhas, nestes pequenos traçados da memória, nestas marcas aqui deixadas.

Se me criticas, então faças melhor, penses melhor, sintas melhor. Não to direi para ser melhor porque isso de fato é impossível. Porque numa coisa somos iguais, e sabemos disso. Iguais na condição humana, mas diferentes na sensibilidade de avaliar a dor de Ser num mundo absurdamente injusto.

Você não sabe o que a injustiça causa no homem, nunca sentiu a injustiça ferir-lhe o coração pois se assim o fosse não seria injusto. Você nunca sofreu por injusta causa; já eu desde cedo por perceber que tudo podia ser diferente se as pessoas agissem honestamente... Então poupe-me de críticas desajustadas da sua deturpada visão de mundo. Poupe-me de comparações alucinadas, de projeções fantasiadas em sua maneira de viver.

Quero apenas ser quem sou e posso, aliás... Como vês eu sou. Sou, sinto e me encontro comigo aqui e não é você quem vai destruir o que quero fazer de mim e se o que escrevo é de fato bom ou ruim.

Vai um conselho: seja você e me deixe ser eu assim!

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Da miséria estudantil

Acordei com o cachorro da miséria lambendo-me a cara velha. Num súbito despertar de quem se assusta com algo, dei-lhe um murro. Não quis feri-lo, mas enquanto durmo já é de se esperar reações por puro impulso instintivo. A vela que estava acesa apagou-se e a escuridão tomou conta do quarto. O impulso que me moveu ali só urge em momentos em que estou dormindo, nos demais pareço homem.

Gostaria de ser somente animal, desprovido de consciência, assim o instinto faria parte de mim em todos os momentos. Desse modo eu poderia esmurrar qualquer idiota que me assustasse no caminho. Para fins didáticos esmurraria os últimos personagens da semana, que me surpreenderam (ainda me iludo por milésimos de segundo tentando negar minha intuição) com um comportamento de merda, completamente adequado a mediocridade local. Tal fato não contribui para que eu perca as nobres esperanças que carrego de um dia mandar todos os imbecis, sem nenhuma exceção, dar um passeio num lugar de onde possivelmente devem ter saído e do qual nunca deveriam ter se ausentado.

Irritada como fiquei nem pude racionalizar direito, nem consegui pensar noutra coisa que não fosse essa tal realização dita acima. Um desejo insano de matar cresce a cada dia, infelizmente existe em mim um SUPEREGO que não fomenta tais aspirações para o então fim último dos meus habilidosos pensamentos de morte.

O cachorro da miséria que me fez acordar num sopapo, foi o mesmo que me fez ir dormir profundamente. O cachorro da delinqüência, o cachorro da imbecilidade humana, aquele que nos permite ir além do que nós mesmos achamos que podemos ir, esse cachorro é o que me desperta nos dias de fúria, mas que eu adoraria que estivesse comigo sempre.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Desvirtude

Ser bom...! "Sou um bom homem". Quem de fato pode se intitular assim? Quantos homens deveras viris existem para assim serem classificados?

Ser homem e ainda carregar a falsa virtude da bondade é demasiadamente inumano para mim. Logo eu que prefiro a impiedade do ímpio ante ao bom do bondoso homem!

"Homem bom". Parece uma piada escutar esse título! Isso me faz lembrar um daqueles longos discursos do louco de Zaratustra. A piada de um é insulto de outros.

Cansei de sensos, de bom senso, de mau senso, de senso comum. Estou deveras indisposta para ouvir títulos medianos, medíocres, de merda.

Quero o fogo, o fogo a consumir os que se vestem por bons homens, os que intitulam imbecilmente assim. Quero a morte das virtudes, das hipócritas virtudes e ver quem vai resistir! Quero ver, se quero...! Ver máscaras de crentes e descrentes a cair.

O querer se transmuta em glória e a minha sei que não posso encontrar se não for assim!

Deixo aqui um pedaço da lembrança: "ó meus irmãos, o homem que sondou até o fundo do coração dos bons e dos justos foi aquele que disse: "são fariseus". Mas não foi compreendido".
(Assim falou Zaratustra - Nietzsche)

Exatamente

Sempre gostei de brincar com as palavras, uma coisa engraçada é que para tudo na minha vida há sempre um sempre e sempre é uma palavra tão forte e tão real pra mim. Além do sempre ocorreu-me agora, num lapso, num devaneio desses que me dá assim sem hora, que também há um oposto trágico que me acompanha. Neste caso, o oposto da adorada brincadeira com as palavras, é o horror que tenho pela matemática.

Horror daqueles monstruosos, dos quais temos mesmo que nos esconder pra sobreviver ao ataque do pior dos inimigos: o medo de ser diminuído por ver sua condição de imperfeito. Oh céus, descobrir que sou um “deus que caga” é terrível! Mas vejamos de onde me surgiu esse terror.

Recordando o início de minha vida acadêmica...tenho péssimas lembranças da atuação de estudante nesta disciplina, isso porque nunca achei a menor graça naqueles quadrados todos, nunca achei o mundo quadrado, losangular ou vi alguma coisa de espacial na minha frente. Na verdade tinha uma enorme dificuldade para imaginar coisas além do espaço palpável. Não tenho visão espacial, nunca tive de fato, talvez por isso tenha tanto desejo de tirar a carteira de habilitação. Quero provar pra mim mesma que isso é apenas um bloqueio, ou sei lá o que se pode nomear sobre isso.

Até consigo me sobressair em situações de extremo risco, em acidentes já consegui a façanha de me enfiar num baú estreito para fugir de uma boa surra. Mas coisas desse gênero eu considero como instinto, algo inato da minha condição de sobre-humana. Lembro-me certa vez já perto de concluir o ensino médio, no segundo ano se me recordo bem, que passei de uma hora para outra a gostar de trigonometria, isso porque o professor era absurdamente rápido e sua agilidade me deixava feliz, a tal ponto que fui enfeitiçada por ele e acabei por me “apaixonar” temporariamente pela então disciplina odiada.

O fato é que foi marcante para mim, nunca fiz a menor questão de estudar matemática até porque achava que somar, subtrair, multiplicar e dividir eram basicamente tudo que deveríamos aprender da matemática enquanto seres humanos, as demais contas eram esdrúxulas, desnecessárias e deveras cansativas para nós míseros estudantes indecisos da vida. Quando então percebi essa nova paixão, por triste coincidência percebi-me também ao lado daqueles seres que sempre intitulei de bizarros por amarem tal ciência. Um desses seres permanece no meu vínculo de amizades até os dias de hoje e se encaminhou pobre coitada, no mundo das disciplinas exatas.

Toda a exatidão que tive se resumiu aquela fase, aquela estranha fase em que eu copiava freneticamente todo o conteúdo da lousa, fato inédito até então. Uma daquelas alunas chatas que se sentam na frente e soltam piadas o tempo inteiro de assuntos pertinentes as palavras, que fazem trocadilhos do além-aula, aquelas piadinhas que só quem ri além da comediante, são os professores e os idiotas dos amigos que não querem estragar a amizade. Uma daquelas alunas que ninguém discute literatura sem ser no mínimo indiciado a ler uma enxurrada de livros; uma daquelas alunas que defendem Machado de Assis à Eça de Queiroz a ponto de sair nos tapas; uma daquelas insuportáveis alunas que admitem não saber viver sem escrever ao menos um texto sensacional, não sabem respirar direito sem ler algo que lhes tire o sono, a própria respiração ou mesmo sua alma.

Sim, eu fui essa aluna. Eu nunca gostei de matemática e declaro aqui para todos abertamente que a única fase em que tudo foi exato foi aquela em que fiquei perplexa porque descobri que além de uma semianalfabeta matemática eu não sabia como tinha passado por média em todos aqueles anos escolares, aí então percebi o quanto a matemática é reducionista...e foi aí que encontrei a filosofia, e claro...a física quântica para me enlouquecer afirmando que 2+2 não são 4!

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Eis tudo

Ela havia ficado muda e pela primeira vez desfrutara plenamente da voz agora impelida por seu mutismo. Estava satisfeita pois encontrou casualmente seres que pensavam e que como ela também haviam perdido.

Perdido o norte e o sul. A bússola que os orientava pelo tenebroso caminho quebrara na guerra e foram vencidos pelo som inaudível das palavras torpes daqueles a quem é devido o atual e desprezível pós-guerra.

Ofereceram-nos a insensatez em troca dos nossos gestos sinceros. Agora cá estamos tentando sobreviver, em vão? Não sei, mas nossas vidas coincidiram no mundo e temos o dever de lutar por nós, de perdoar por nós para que o fim não nos afogue no meio. Morrer numa maré de grandes peixes mas de águas sujas não é brilhante, quero uma morte feliz, suave e que acima de tudo nos permita falar.

Mas convido-nos provocativamente a pensar no tempo. Até quando estaremos assim? Não há respostas exatas, não lidamos com lógicas, nossa matemática é transcendental.

Tudo o que posso afirmar por mim é que quero estar com vocês até o fim, sim vocês que me fizeram achar o que eu havia perdido de melhor em mim. A vocês chamo de amigos e devo sim, o meu sincero obrigada.

E quero muito de volta as nossas esperanças.

Somos iguais, somos tão diferentes, somos humanos, somos eu, vocês e nós. Nós somos, e esse plural me alivia porque sei que seremos sempre melhores lado a lado e que apesar de tanta criticidade, bem sei que vocês são assim comigo, consigo, conosco mesmo, estamos desinstalados, não alienados.