Aqui já usei quase todo o meu repertório masoquista e desfiz boa parte das minhas ideias comunistas. Esse espaço é meu, mas desejei compartilhá-lo com o mundo, se você faz parte dele...Então seja muito bem vindo(a)!

sábado, 20 de novembro de 2010

Passando

Aquele vento frio da noite me acalmava, sabe? Eu podia sentir Deus na brisa forte do mar.
As coisas mudaram, se você não sabe! Agora mesmo estou escrevendo a lápis num caderno usado da faculdade, não meu, mas da minha irmã.
Formaturas se passaram, as crianças já cresceram. Anna já fala português e o inglês?
O inglês se esquecera, como eu, se esquecera também. Hoje nos parecemos mais, e que bom!
Temos infâncias semalhantes: casa dos avós, balanços e aventuras.
No feriado me assustei, minha prima antes caçula, já é "moça". Meu avô já se cansa e minha avó já dorme a tarde.
Os cachorros já estão adultos, Willy de barba branca. Bob com as ocorrências da velhice: faltando alguns dentes. Meu quarto, agora de hóspedes, meu guarda-roupa quase vazio. Minhas amigas de infância com filhos.
É difícil não querer, como é difícil.
Mas mais difícil é querer olhar pra trás e aceitar as condições impostas implicitamente pelas próprias escolhas realizadas a tão pouco tempo assim.
O duro não foi sair de casa, o duro foi resistir e sofregamente perseverar e persistir e não fugir do objetivo que escolhi. Mas sou forte, na minha fraqueza eu sei que sou forte porque quem está comigo é fiel até o fim. Não vou abandonar o que desejei de melhor pra mim, pra elas, pra eles que ficaram e acreditaram no melhor de mim.

Agora


Agora, foi agora que percebi que não podia continuar abandonada assim.
Hoje, ontem.
Ágora entre eu e as multidões de mim.
Agora entre o que escolhi e o que desejo seguir.
Passei, passado. Não quero mais me atrever a olhar para o abismo que atravessei e encontrá-lo chorando de saudade aqui.
Minha memória não morreu ali com todas as coisas que deixei, minha memória está viva, meu coração ainda pulsa e eu quero o presente que optei sim.
Quero a serenidade das grandes mentes, não a solidão dos grandes mestres.
Preciso sentir-me presente na realidade de hoje, de agora, na ágora das multidões de mim.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Ponto

Gosto de ver o mundo pela cortina dos meus cabelos assanhados, de sentar embaixo da sombra de uma grande árvore e de deixar passar as horas assim sem medo.
Sem medo de me sentir inútil depois, sem culpa por achar que o andar dos ponteiros tornou improdutivo o meu dia;
Sem me comprovar a ideia tola de que as poucas horas entregue aos pequenos prazeres da vida, são desperdícios de minha limitada existência aqui.
Não sei o que deu em mim, alguma coisa alguma coisa de estranho parou e ponto.
Alguma coisa que me tirou o sabor da vida. Já nem sei mais pensar, já nem sei nem sei se tive saber. É como se tudo fosse um zero, um enorme e insignificante zero à esquerda de mim.


Alguma coisa grave me fez ficar assim nesse hoje de ontem.
Tenho tanto, tanta...sei lá o quê!
Raiva? Nem sei.
Alguma coisa que nem sei me deixou assim, quase homem, quase imóvel, quase fóssil.
Quero o querer de volta, o meu mergulho diário em mim quero de volta.Minhas profundezas quero de volta, sim sim o meu pertencer quero de volta: quero viver!