Aqui já usei quase todo o meu repertório masoquista e desfiz boa parte das minhas ideias comunistas. Esse espaço é meu, mas desejei compartilhá-lo com o mundo, se você faz parte dele...Então seja muito bem vindo(a)!

sábado, 13 de agosto de 2011

Desconstrução



Depois de derrubar uma muralha fica o sorriso já gasto de quem aprendeu a se res-guardar para se proteger.

De repente reapareceu a coragem, a coragem que sempre fugiu quando quis acreditar e ser-quem-sou...uma mulher sem véus e com vestidos, muitos já gastos e perdidos. E num relance de quem sabe o que precisa fazer eu fui em frente.

Fiz.

Sem data ou previsões para retomar a construção, derrubei mil tijolos de uma vez. Mergulhei a cabeça ansiosa numa poça dentro de mim e chorei. Chorei enquanto abria meu coração para pôr fim à prisão que construí.

E naquilo tudo vi a certeza certamente, aquela de quem sabe o quê e por quê faz.

E também vi, vi o medo mordaz indo embora com as lágrimas e não pude impedir, o desejo secreto de expressar minha sinceridade foi finalmente mais forte, até que em fim!

Só me restaram duas coisas: o meu desejo e a doçura do meu olhar molhado. Porque todo o ressecado se lavou na confiança que se mostrou, e eu revisitei a pessoa querida que sou.

E da menina ferida pouco sobrou porque as lembranças doídas o tempo tomou. Não haverá mais estragos na mesma proporção, aprendi que eu também tenho razão.

Impressionantemente bastou apenas um clique para que as distâncias diminuíssem e a muralha caísse.
Um começo recomeçou dentro de mim e me senti grata, feliz e serena comigo e com o mundo enfim.


sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Gestos



Minhas mãos suavam e só eu sabia o motivo.
Implicitamente tudo em mim estava sob efeito de uma forte emoção que inesperadamente contive para não ser-me diante deles.

Não me sinto feliz, não sou eu ali.

E há momentos que inutilmente penso em fugir, em fingir, em desaparecer ou fazer-me invisível para não sentir. Porque o que sinto não tem nome, não tem cor, não tem sabor. É um nada que é tudo, tudo o que hoje me impede de ser-me completa.

E sofro.
Tanto que não consigo falar... Se quer consigo arrumar arranjos, gestos ou palavras.
O terrível é que eu não tenho dito nada, e para mim isso tem um peso.
O peso de uma âncora que tento puxar com nós abaixo do possível para mover um navio cargueiro.

Porque para que eu viva preciso dizer a mim aquilo que sinto-sou .
Da dor que a ninguém revelo, porque há muito que espero salvação.

E por esperar, creio. E por crer, me res-guardo e, por me res-guardar, escondo e por esconder: não vejo. É que tenho evitado meus confrontos porque está sofrida...
A minha alma está sofrida demais para suportar a angústia pelo inacreditável que habita em mim, as possibilidades que são minhas, mas que estão aqui: clementes na espera da completa abertura de mim.

Mas estou tentando, hoje dei um abraço e foi muito mais do que achei que podia.
A sinceridade daquele gesto me invadiu e num pequeno movimento corporal me debrucei diante de um ser que me compreendeu o desconforto e não, incrivelmente não comemorou o meu fracasso.

E por respeito e agradecimento a esse Ser (Janne Freitas), não achei nada melhor no momento do que publicar esta postagem.

sábado, 6 de agosto de 2011

Porque ajudar faz bem




Um domingo de sol, muito sol.

O dia amanheceu conforme o previsto e o desejado por mim e por mais outras 11 pessoas. Estávamos preparados para a aventura (I Mutirão de Banho no Abrigo de Cães da Dôra) que nos esperava no bairro da Muribeca na cidade de Jaboatão do Guararapes. Para quem conhece a RMR (Região Metropolitana do Recife) sabe que o lugar onde o abrigo tem sede é de difícil acesso.

Ao chegarmos percebi que não tinha dimensão do quanto seria atingida por aquela aventura, tudo só ficou claro quando me deparei com um portão e muitos olhares. Os olhares eram dos cães que esperavam curiosos, clementes e felizes por algo que nem eu, nem eles sabiam. Parecia que nós éramos desbravadores, super-heróis e que nossa ação não seria social, mas realmente animal. 

Senti minha humanidade ali. 
Fui duramente afetada por imagens difíceis de descrever e digerir. As palavras são pequenas para dizer a tristeza que me atingiu, a realidade literalmente crua que se mostrou a mim e aos outros voluntários. Não havia opacidade nos animais, tampouco nos olhares dispersos numa ansiedade que era minha e acho que de todos também.

E entrei com vontade de não voltar, de não ver, não querer estar ali, aqui, entre nós. A miséria da humanidade tem nome e se chama individualismo, estávamos na Muribeca comprovando isso.

Um abrigo, dois terrenos, um casebre aos fundos, algumas construções ainda por acabar, telhas, cachorros, um ser humano dividido em 11 outros seres e muita, mais muita boa vontade.

Mas lembro aqui que infelizmente a boa vontade sozinha não pode mover o mundo repleto de corações ressecados pelo egoísmo. Portanto Maria Auxiliadora Florêncio, D. Dôra, como é conhecida, proprietária do abrigo de cães que leva seu nome, precisa de ajuda para manter em condições dignas a vida dos 116 cachorros que se encontram sob os seus cuidados¹. Na situação precária de espaço e higiene em que vivem os bichanos, alguns estão gravemente doentes, pois como boa parte desses animais é trazida da rua, já chegam ao local contaminado por várias doenças, entre elas a cinomose que requer cuidados especiais não disponíveis pela ausência de infra-estrutura, vacinas e medicamentos.

Além disso, há o problema da leishmaniose que é uma zoonose que merece atenção, pois atinge o homem também. Havia um número considerado de cachorros bastante doentes, uns até em estágio terminal e outros que devido à fragilidade poderiam facilmente ser vítimas do mosquito transmissor, já que um número considerado tinha os sintomas da doença.

Havia caixas d água espalhadas pelo ambiente, todas devidamente vedadas, claro. Mas aí fiquei imaginando como aquela mulher (diga-se de passagem, guerreira) conseguiu manter o abrigo e todos aqueles animais com tão pouco auxílio.

Bom, antes de dar por encerrado esse texto gostaria de falar da maravilhosa impressão que me foi deixada desse dia. Antes de entrarmos éramos estranhos para os cães e uns para com os outros, (lá só conhecia minha irmã) mas a recepção foi calorosa do princípio ao fim, até estabanada em alguns momentos, mas o prêmio do dia surgiu antes de sairmos e foram os olhares de satisfação e os cumprimentos agradecidos daquelas criaturas tão fiéis a nós míseros humanos. 


A isso não há dinheiro no mundo que possa comprar.


Portanto tenho a certeza que pelo pouco que ajudamos saímos de lá melhores, não maiores, mas mais dignos porque fizemos a diferença. Porque ajudar não faz bem apenas a quem recebe, mas principalmente a quem de fato ajuda, nessas horas os bons sentimentos se multiplicam e as esperanças de um mundo melhor reaparecem.
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¹Contagem dos animais realizada no dia 10 de julho de 2011


(Os voluntários)

Quem se sensibilizou com essa história verídica e deseja ajudar porque sabe que só se sensibilizar não é suficiente (é preciso agir para tornar o mundo um pouco melhor!) entre em contato para mais informações.
"O que plantamos hoje colheremos amanhã!"

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Obviamente




Eu gosto do indecifrável, o mistério todo me chama a atenção.

Não suporto o que percebo em poucos segundos, porque o óbvio me fere, me irrita.
O improvável, o inacabado é que é atraente e me alimenta a alma num anseio desesperado por desrazão.

Mas o difícil neste mundo é ir além do que se vê e escarnecidamente rir do óbvio sem ferir ninguém. Ah como é impossível existir por esses moldes que nos impõe tão ridiculamente assim. Eu tento não golpear, mas é como tentar matar sem violência...

E a morte por si só é agressão!
Não posso evitar, existir e apropriar-me de mim é imprescindível.