Aqui já usei quase todo o meu repertório masoquista e desfiz boa parte das minhas ideias comunistas. Esse espaço é meu, mas desejei compartilhá-lo com o mundo, se você faz parte dele...Então seja muito bem vindo(a)!

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Desabafo


Estou procurando minhas amarras...de repente, em menos de 10 minutos, o céu sumiu e o chão afundou. E nem foi porque não tentei fugir. Fugir foi o que fiz desde os meus 13 anos. Fugi obstinadamente de pensamentos persecutórios e de culpas descabidas, tentei apagar tudo e ao mesmo tempo nunca esquecer, porque esquecer seria perdoar e perdoar era a última coisa que eu queria.

Porque perdoar tem limite e o limite que eu der.

Violaram meus direitos e eu tive que contar apenas comigo e com os comigos de mim. Ninguém sabia, exceto eu e Deus. Ninguém sabia o que eu escondida atrás daquelas máscaras, até agora, até ontem.

Não queria aumentar a culpa que sempre carreguei.
Ser motivo de preocupação e ainda escutar que as neuroses tinham razão.
Agora sem minhas injustas medidas eu tento sobreviver, sobreviver a um ataque de cuidado. Cuidado que me deixou com a alma doída, doída de não saber o que fazer. De ter vontade de correr e de não fazer por medo de com isso novamente só perder.

Mas então o que foi isso que ficou? Que dor é essa que não passa, que não fala, que não quer ir embora? E por que o cuidado só apareceu agora quando já nem esperava mais? Quando já tinha dado por encerrado, quando já tinha resolvido matar minhas possibilidades!?!

Por que há um vazio que nada preenche? Por que as horas não passam e as lágrimas não cessam? Eu tenho perguntas e eu quero as respostas!

Estou tentando fazer da minha dor a minha super-ação, mas não, não, não está sendo fácil. Arrancaram o que eu pensei saber secreto e agora eu não tenho como escapar de novo dos antigos e reais pensamentos.

Hoje só me pergunto o que vou fazer com o que sobrou de mim...'meuDeus' será que vou conseguir? Em ti espero e confio, não me deixe só, nem me desampare, amém.



sábado, 15 de outubro de 2011

Rosa


Fui obrigada a repensar toda minha vida em segundos. Por quê?!
Porque abruptamente perdi e as perdas são sempre dolorosas demais a mim.
Precisava de mais tempo para repensar tudo assim, para aceitar a realidade enfim. Mas a fugacidade da vida me induziu sem escolha, não deu para resistir. É que na dor ou na presença do medo não me restou muita coisa, a não ser deixar as lágrimas expressarem meu descontentamento, minha decepção.

Esperava mais da vida, eu que recentemente fui levada a crer que precisava viver.
Viver pelas escolhas que fiz e não pelas que sofregamente resisti.

E já faz quase dois meses da iminente sempre presente, perda, e eu penso se fui honestamente fiel ao que deixei por mim...aí olho para trás e vejo tanta inautenticidade que dói sentir, sentir o significado das coisas que por medo nunca aceitei o fim.

Eu preciso seguir em frente, mas alguma coisa me chama para olhar se ainda há água no poço. É que parece que o passado não quer me deixar sentir o presente bem e a contragosto dele, eu tenho urgência.

Sei que não posso mais ir adiante sem aceitar as implicações do aí, daquilo-que-é, da minha vida-no-mundo e do que fica: a saudade doída de uma pessoa querida que in-felizmente descansou.

Eu poderia ter sido mais forte, mas hoje isso é tudo que sou.
Você deixou marcas tia Rosa e eu sempre vou sentir sua falta.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

A-braço


Deu saudade...
Saudade de me sentir largada nos meus pensamentos precisos, do meu tempo recolhido.
Não que eu queira voltar, me entenda...sinto saudades apenas de lá!
É que nesse tempo eu só tinha a mim para escutar.

O mal costume foi de me refugiar no res cogitans, como se assim eu pudesse escapar, escapar do medo, do enorme medo de viver, porque eu sempre achei que deveria saber... ninguém nunca me disse que isso não se sabe, que não se aprende, que não se precisa saber.

Sorte a minha, por ter que descobrir isso sozinha.
E a maior sorte é que tive mesmo muita, muita sorte.
Porque minha solidão pude suportar, sem a mim mesma negar.
Mergulhei bem fundo aqui, quase me afoguei na imensidão de mim.
E foi angustiante...de uma angústia sem fim. Eu que sempre me achei tão...? tão pequena, me ver numa condição desmedida, com palavras sendo tolhidas nas reticências de mim. Que contradição! Eu com um gigantismo e um coração bem vívidos aqui.

De repente em mim cresceram braços que me fizeram acolher a pessoa que também vos escreve e vos diz: não é preciso saber viver! E quando finalmente me desvencilhei desse abraço torto e apertado, pude sentir...o vazio, aquele que a vida claramente traz, e temi.

Mas antes de voltar atrás, de me ver de novo incapaz, agarrei! a vida para um passeio, e conversei, por longas horas teimei, até me dar conta de que não tinha sido isso o que eu desajeitadamente sonhei.

Não pude mais fugir, eu e a vida viramos amigas enfim. Só que há sempre uma desavença, vez por hora perco a paciência. Não fui ensinada a suportar muita dor, não sei esconder de mim mesma o evidente, não nego o que vejo aparente.

E sinceramente discordo que é preciso saber viver!
Quem disse isso nunca percebeu que sofrer é inerente e não causa.
Sofrer é parte intrínseca, inseparável da nossa condição.
É ontológico...é nossa única possibilidade para existir, para ser-aí-neste-mundo, agora se existe outro me avisem...porque esse eu ainda não sei!

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Manual



É difícil se ver, sobretudo quando o tempo é curto e há sempre mil coisas a se fazer.

Mas é muito mais difícil suportar as horas sem se deixar entregue ao tédio, ao ócio, a insônia e a todas as reflexões daí decorrentes. É que me acostumei comigo mesma, com a minha solidão necessariamente forçada, com os meus pensamentos, meus confrontos, meus desafios diários de me olhar cara a cara, e me ver para um diálogo dolorido, mas franco.

Porque francamente me conheço além do que gostaria. E por mais que se conhecer tenha lá suas boas implicações, também tem as ruins. É que me irrita ter medo de mim e saber dos horrores que me habitam, das fragilidades e das histórias que são apenas minhas e que hora ou outra me assolam e ameaçam arruinar tudo, tudo-de-novo.

A sombra que me permiti estar por tanto tempo, me faz lembrar o que deixei à toa.
À toa de mim, à toa pela boba que sempre escondi... Meu Deus quantas vezes planejei uma saída, uma mentira, uma inexplicável e absurda mentira?

A ansiedade me causa tormento pela realidade ser a quase todo momento digerida, va-ga-ro-sa-men-te, por minha incapacidade de não refletir. É que é uma doença que adquiri desde pouca idade e que me lembro bem das respostas que de ninguém obtive e que sozinha tive de descobrir.

E não sei se foi a melhor coisa que pude concluir, mas enfim... Hoje penso que ou você cria seu próprio manual de instruções para ser-no-mundo aqui ou o manual deste mundo cria você deturpado por fim.