Aqui já usei quase todo o meu repertório masoquista e desfiz boa parte das minhas ideias comunistas. Esse espaço é meu, mas desejei compartilhá-lo com o mundo, se você faz parte dele...Então seja muito bem vindo(a)!

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Co-mo-ver



Ainda choro de saudade, me coloco no lugar dos outros e me revolto com injustiça. Ainda me emociono com um livro, brinco com crianças e converso com cachorros. Sabe que eu falo sozinha? Adoro tomar banho de chuva e dou risada quando não pode?! Sim, eu gosto das coisas simples e não troco tudo isso por riqueza ou bens, títulos ou posses. Eu sou jovem, mas sei que tempo não diz sobre maturidade...afinal há tantos adultos infantis e tantas crianças adultas! E tenho dito... eu quero é viver a simplicidade da vida, porque nela está a verdadeira beleza.

Sinto por aqueles que ainda procuram viver em função de seus egos, de suas vaidades. Sinto por aqueles que disputam desesperados pelo poder para provar a si e aos outros o que são capazes de fazer...esses eu vejo que não compreenderam a maior verdade da vida: Tudo o que levamos conosco está no coração! Por isso no dia da minha partida quero estar com meu coração em paz, levando comigo o amor e a gratidão recebida.

Queria pedir que não seja somente uma data que motive a vocês meus amigos a refletirem sobre solidariedade, afeto, sinceridade...que seja um exercício diário, um exercício que não dependa do calendário de festividades. Que seja a consciência de que somos um ser-para-morte e que hoje estamos aqui, mas amanhã...amanhã? Bem amanhã é outro dia que por sinal não possuímos, nem poderemos.

Por isso eu desejo para todos os que ficaram e para os que passaram na minha vida, momentos de reflexão sobre seus atos, momentos de perdão e acima de tudo momentos de sinceridade. Seja sincero consigo mesmo, avalie suas atitudes e sim, se em 2012 você não fez o seu melhor, repense...vale a pena. Que o ano que está bem perto de iniciar possa vir coroado pelo maior ensinamento de Cristo: a humildade. Porque sem ela é impossível agradar a Deus, impossível alcançar o próximo, impossível ser feliz, porque a arrogância distancia as pessoas, é o amor e somente o amor quem apaga multidões de pecados. Um abraço cheio de afeto aos meus amigos que estiveram comigo neste ano de significados, sentidos, anseios, alegrias e crescimentos. Obrigada a todos que de uma forma ou de outra me ensinaram, mesmo àqueles que não foram educados, que me decepcionaram, me magoaram. 

Que em 2013 eu não crie tantas expectativas, que eu seja mais leal, mais gentil, menos agressiva. Que em 2013 eu valorize mais minha intuição, rejeite climas tensos e saiba dar limites aos que precisarem mais do que o meu expressivo olhar pode ofertar. Que em 2013 sejamos menos egoístas e mais sensíveis, menos mesquinhos e mais honestos. Que estejamos mais perto de Deus e que os limites sejam transpostos com diálogos sinceros. Que possamos aprender a essência do evangelho: AMAR! 
Esta é a minha oração a Deus para o ano que se inicia, em nome de Jesus, amém! 

Feliz Ano Novo para todos que acreditam que a mudança precisa começar primeiro em si! Que Deus nos ensine a co-mo-ver! *____*



quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Essa menina angustiada...





À menina angustiada, um copo de vidro.
Um copo de vidro para a menina angustiada, 
que se angustia
e que sabe que é bom.
Que beberá nele o que vier,
o que lutar
e o que se esconder.
Deixar-se-á cair o copo?
Terás um drink?
Guardarás?
Ah, menina angustiada,
que num fogo, no relento
chega a brilhar!
Chega a ser devasta(dor)a.
E nesse pranto, apara com o copo
e bebe dele o que foi dela mesmo.
Seria estranho, seria triste?
Há uma menina angustiada
que se mobiliza e alça voo.
E nesse voo, com essa angústia...
percebe que é a ela mesmo que tem que dar por merecer...
por ser feliz...
por ser quem é...
(e por quem vai ser).
A você, menina angustiada!


Um abraço bem caloroso.
cuti cuti.



Para mim, para Jailton e para todos os meus amigos,
com todo o meu afeto e gratidão:

Coisa linda é ser surpreendido por um texto desses que me arrebatam os sentidos! Que me deixam como criança boba lendo e relendo espantada! Ah os amigos..., são esses encontros inesperados da vida, são vocês e são eles, que me emocionam e me fazem crer que apesar das crueldades do mundo ainda existem pessoas pelas quais vale a pena se doar. É por isso que eu espero estar presente na sua existência Jailton, desde agora até o dia que meu Dasein for para o seu lugar final: a morte.

Obrigada por tudo, não vou te dizer adeus porque você não vai mais sair da minha pobre life, tem lugar pra você de sobra, de graça e pra todo o sempre! Te amei desde o primeiro dia e agora mais do que nunca quero te conhecer mais!
Saiba, sua amizade é me indispensável!

Amo você seu fofo! *___*

Arrematando os pontos



Sinto que perdi, perdi para ganhar. Ganhar em autoconfiança, ganhar em perseverança.
Sinto que me falta...me falta chorar um pouco pela despedida, pelo final que já é hoje, já chegou. Mas foi a dor, me esculpiu dureza, estou resistindo, mas vai chegar a hora, eu sei que vai.
Cinco anos eu tenho de histórias escritas e despidas em um trabalho que fala de mim, mas que não me possibilitou ir mais além. Porque tentaram, tentaram me privar.
Eu sei que a liberdade que eu tenho assusta, nem eu às vezes sei lidar com a minha vastidão. Por isso fui rejeitada, criticada, ameaçada. Feriram minha integridade moral, tentaram destruir meu emocional.
Mas eu cheguei ao fim!
Eu fui forte porque quem está comigo é o justo juiz, Ele provou a mim que ninguém poderá me deter porque é Ele quem me quer assim: honesta.
Não vendi meu caráter, não me troquei por vaidade.
Porque minhas vestes são outras, minha glória não está aqui! Os títulos são apenas papéis que as traças corroem: A vida transcende!
TRANSCENDE.
Eu não quero ser profissional medíocre que precisa se aproveitar das fraquezas alheias para mostrar a força que tem. Não quero disso fazer uso! Eu lanço mão do olhar, do gesto e do afeto. Por força não, por violência não, disso eu abro mão.
Estou feliz, mas é por mim que fiquei livre, livre das amarras institucionais que tentaram me aprisionar e que tantas vezes achei terem conseguido me acabar.
Mas hoje sou eu quem bato no ombro deles e digo: ninguém poderá!
Eu sou mais forte, tenho o que vocês com toda sua vaidade e presunção não tem, eu tenho DEUS e contra Ele não há quem possa!
Obrigada meu Senhor por me provar tua boa, santa e agradável vontade, tu és TREMENDO e não há homem que diante de teus feitos não se dobrem! 
Toda honra, glória e majestade seja dada a ti e somente a ti! 


segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Verdade



"Levantei-me. O tiro de misericórdia. Porque estou cansada de me defender. Sou inocente. Até ingênua porque me entrego sem garantias".
(Clarice Lispector)


Estive silenciosamente pensando. Em nada... E é difícil deixar-se entregue ao nada dos pensamentos que impressionantemente falam.

Perceber-se enquanto humana, cheia de imperfeições é um exercício necessário que só me tem feito bem. Eu que tanto fugi de mim e agora estou aqui tão tranquila comigo que me espanto! E me abismo porque noutros tempos eu sei que estaria absolutamente triste comigo e pior, culpada. O bom é que a tristeza dá e passa, a culpa não. É um bicho cruel que te corrói o coração e o amor. O amor por si que acaba se desfazendo lentamente. Mas hoje eu vejo sem medo, sem medo de perceber a pessoa bonita e honesta que sou.

Porque eu sei que fui... Eu fui fiel ao que acredito ser verdadeiro, e verdadeiro é ser honesto: honesto consigo e com os outros.

Fui e tenho sido!
Não minto, não sou dada a essa falha de caráter. Tenho muitos defeitos e reconheço-os sem o horror de outrora. Se por acaso vier a me envergonhar é por acreditar presunçosamente que acertei e depois perceber que apenas me iludi. Mas isso é por hoje me admitir humana, me aceitar como tal.

Mas há aqueles que não conseguem se permitir o erro.  
Eu?  Eu não digo nada, às vezes o silêncio é a melhor forma de resposta, de amor. Porque deve haver nessa perfeição uma necessidade. E não me acho no direito de questionar as necessidades alheias. Cada qual com a sua, eu que tenho a necessidade urgente de ser o que sou. Não me cabem carapuças, não me doem indiretas, porque eu vivo na extrema necessidade de ser sincera. Prefiro ainda que pague um ônus caro por. 

É o que me faz plena de mim.

Prejudico-me se necessário for, mas mantenho o mínimo da minha dignidade e não, eu não minto! E tenho mais do que motivos para manter fixa essa postura. Mesmo que o mundo inteiro diga o contrário, eu simplesmente não minto, não suporto. Já tenho defeitos para doar aos milhares, não preciso de mais esse para acrescentar ao meu currículo.

Sinto muito para quem se sente incomodado comigo, não posso ser aquilo que não aguento. Cada um sabe a dor de Ser, e hoje mais do que nunca me respeito, me aceito e tenho tentado fazer de mim o melhor que acredito. 

Espero com coração trêmulo de fé que um dia as pessoas a quem confiei segredos de alma e as que não, que não só entendam, mas compreendam que ser sincero não é ser “idiota”, “burro” ou qualquer um desses adjetivos pejorativos facilmente atribuídos àqueles que ainda tem a coragem de Ser.

Eu falo por mim, acredito por mim... mas ardentemente espero que a vida seja feliz nos seus ensinamentos e os ajude nesta valiosa lição. Porque vale a pena ser sincero apesar de.

Obrigada a todos os que me fizeram acreditar que não é vão, o movimento de autenticidade não é vão e que não é sincero aquele que diz que não dá pra ser autêntico o tempo todo. Dá, é questão de querer, de ser sábio, de esperar o momento certo para Ser!

Porque não preciso dar minha opinião o tempo todo, não preciso dizer quando não concordo, o silêncio pode comunicar meus intentos. Não preciso fingir amizade para estar ao lado de quem não suporto só para saber o que a pessoa trama. Não preciso me preocupar com o que pode me fazer o homem, porque eu sei em quem confio e de que sua justiça não falha independente dos meus erros e defeitos. 

Porque Ele não se deixa corromper, Ele simplesmente é fiel a si mesmo e a sua palavra. Eu só tenho que dizer: obrigada Senhor, mais uma vez eu te agradeço pelos teus valiosos ensinamentos!

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Para lembrar de mim



Levantei, não por que eu quisesse, claro! É que quando dá a hora do famigerado do meu cão comer, ele simplesmente liga a sirene de Pavlov e se desembesta a latir. É um saco, eu sei. Mas eu se fosse ele não faria diferente. Odeio passar fome, odeio. E só me dou conta do quanto odeio, justa hora em que estou completamente absorta pela fome, com o estômago colado nas costelas, como dizem os adoradores de hipérboles.

Ontem estava lendo Kafka, assim como quem não quer nada eu fui ao supermercado e por feliz coincidência deparei-me com uma estante de uma editora de bolso. Com a fila para o caixa parada me permiti o luxo de ficar distraída observando os títulos em questão. Foi quando me encontrei com ‘Um artista da fome’, e logo, não pensando muito, inclui na minha lista de indispensáveis do dia. Pronto, a cesta de compras ficou completa!

Cheguei em casa e fui guardar as compras, lembrei de Kafka e corri pra me presentear com uma leitura assim, dada numa terça-feira de agosto. Pensei em como iria ler aquilo na minha última semana de férias...? Eu que deveria ler Augusto Cury, num desses temas autoajuda: Como sobreviver ao último final de semestre ou 12 dicas para sobreviver ao término da faculdade! Mas não, fui ler Kafka mesmo!

Um mergulho, um suspiro, um medo.

Meu Deus o que foi aquilo? No primeiro conto intitulado de “Primeira dor” já deu pra sentir a densidade e respirei fundo na empreitada. Fui lendo e à medida que virava as páginas minha respiração foi ficando ofegante até que na história de “Uma pequena mulher” eu já estava perplexa. Quando chegou no “Artista da fome” eu nem respondia mais aos estímulos do ambiente, estava absolutamente em transe, estática, paralisada num aprisionamento de uma série ininterrupta de pensamentos.

Tive que ir parando, respirando novamente bem devagar, e finalmente fui observar o ambiente pra criar nova coragem, nova roupagem para só assim ir adiante. Kafka consegue me arrancar suspiros chocantes. Eu estava espantada e me perguntando se era possível tanto horror assim... De graça!

Quando já caminhava ao final do conto, permaneceu a indagação me incomodando, será mesmo que é dessa forma que se sentem os artistas? Como assim um espetáculo que a ninguém mais interessa? Como? Que fome é essa? De onde vem...e eu já estava filosofando sem querer.

Cheguei ao final e o que mais me deixou perplexa foi com que destreza foi finalizado o conto, pois que nas últimas palavras do ‘artista da fome’ havia tudo! Ele disse: “Porque eu nunca encontrei a comida que me agradasse. Se eu a tivesse encontrado, acredite, eu não teria feito nenhum alarde e teria comido até me empanturrar, como você e todo mundo” (KAFKA, 2011, p.46).

Não precisei de mais respostas. O que eu precisei, encontrei. Num olhar curioso, de uma criatura que me perguntou se aquela era a biografia de Kafka eu me encontrei de novo e respondi de ímpeto tudo o que sabia, tudo o que naquela hora podia. Mas o que sabia nem sei se era mais verdade. O que respondi foi que não, aquela não era a biografia dele, mas a obra que segundo alguns críticos era a mais autobiográfica. 

Em frações de segundo disse a mim mesma...autobiográfica dele?
Dele nada, minha! Pena que Kafka pensou antes, viveu antes, sofreu antes. Foi tanta identificação em tão pouco tempo que tive a ligeira sensação que nos conhecíamos de algum lugar. Mas aí, aí me lembrei que tivera sido de uma Metamorfose distante, de umas horas perdidas na frente do computador, numa tarde de julho qualquer e sem nenhum fisioterapeuta xeretando nossa conversa. 

Crônica inspirada em: UM ARTISTA DA FOME seguido de NA COLÔNIA PENAL & OUTRAS HISTÓRIAS da L&PM POCKET.


sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Sobre escrever




Sempre achei que tinha talento pra escrever. Primeira mentira! Nunca acreditei nessa história de talento, muito menos de dom...sempre achei que tudo fosse conquistado, e de fato, não estive enganada.

Para escrever um texto comovente, de lágrimas gritantes e olhos admirados, não é necessário ser descendente direto de Shakespeare ou Camões, é preciso apenas um lápis, um papel e um desejo: o de dizer. E por isso eu digo, digo por que digo que escrever é um desejo estranho, ardente, sem muito precedentes, é a vida pulsando em si.

Para escrever é necessário paciência, determinação, amor.

Amor, absurdo amor. Pela vida, pelo dizer que se faz caminho traçado em linhas. A vida não é linear, a escrita jamais poderia ser. Por isso existem as crises, aquelas em que temos tanto a dizer que mesmo a dor sendo dilacerante não conseguimos se quer pensar num traçado perdido, numa palavra qualquer. Viver e escrever são sinônimos para aqueles que sentem o desejo insano de a si mesmo dizer.

Porque há, há os que sobrevivem com as migalhas do mundo e há os que sobrevivem das migalhas do mundo e das migalhas de si. Esses últimos são os poetas. Àqueles que não sabem esconder uma dor assim lancinante, um olhar inquietante e um saber que a si mesmos não enganam: existir é da ordem do impossível.

Escrever torna tudo mais leve. Pegue um papel e diga, você que também pode ser! Veja se não é verdade que o que tem vontade de a si mesmo dizer não é maior?! Chega de modismos cults, de ideias pré-concebidas por pseudointelectuais. Todos são capazes de a si mesmo dizer, é preciso apenas exercitar.

Assim como aprendemos a falar, também precisamos aprender a dizer. E dizer num mundo mudo e movido pelo absurdo, pelo automatismo da rotina diária que muito estraga e desfaz, é difícil. Sobretudo porque a ideia de talento inato ainda é muito difundida...é que alguns pretendem subir nos degraus da fama através de meios assim. Não os denuncio, suas próprias atitudes assim o fazem.

Eis porque nem todos conseguem ser escritores, alguns ainda estão presos a esses conceitos, enquanto outros, verdadeiros medíocres, sobem de algum modo. É difícil escrever, verdade. Mas não é impossível. Por isso vai o meu conselho...Diga, sofra, chore, sangre, se esforce e verás que não há nada do existir que no humano seja exclusivo, a dor de Ser é comum a todos, há os que fogem dela e há o que a encaram.

Desejo que a encare e tenha uma boa escrita!

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Transit-ar




Quantas coisas se passaram....As madrugadas já não são suficientes para o turbilhão de pensamentos que me assolam. Os cinco anos que vivi, das histórias que a ninguém li e que se encontram mescladas na realidade e nos sonhos que esta semana revivi...De repente uma pessoa, em seguida as lembranças. O conservatório, as isoladas, o tempo de estudante pré-vestibular. O tempo de ingenuidade, o tempo de autoconfiança.

Agora? Agora a vida é outra, os amigos são outros, as pessoas que ficaram, estão. No meu passado e nem tão passado assim.  Eu me reencontrei e dei margem a uma série de sentimentos, redimensionei pensamentos, ressignifiquei o que ficou, e o que sobrou eu guardei pra mim.

Eu era meiga, sim?
De uma meiguice que não sei onde nem como, mas que se perdeu no caminho árido e seco que encontrei. Estou procurando os pedaços dos pães que alimentaram os pássaros selvagens na caminhada que percorri. Joguei migalhas na espera que nem todo passarinho comesse, porque achei que nem tudo que existe se pode perder. Boba que eu era, achei que não poderia, havia muita coisa que eu achava que sabia, e nem era mesmo poesia.

Invencível. Mas o que será e porque será que existe essa palavra? Quem é? Que humano é este e de onde vem? Ele existe? Se sim, eu nunca conheci.

As amarras estão se ajustando agora e eu como de costume, estou costurando os pedaços de pano que encontrei no caminho de volta pra casa. O percurso é sempre doloroso, porque as lembranças são doídas, as pessoas que ficaram queridas e o adeus em toda partida é o que se tem. Há também as malas, o que podemos levar e o que fica. E o que não fica não dá pra esquecer rapidamente, é preciso tempo, tempo pra esvaziar.

De tudo o que marcou, cicatrizes, do todo que sobrou, malas vazias- é que muito de mim deixei para trás-, e de tudo que permaneceu, um sorriso meia boca num rosto vivido.

Quem muito chorou sabe como é bom e preciso sorrir. Quem já perdeu vê na vitória a importância de agradecer e ser feliz. E quem já sentiu dor entende que tudo é transitório.

No final a gente compreende que é isso, só isso: o começo, só o começo. 


terça-feira, 24 de julho de 2012

Poiesis

POESIA

Eu vejo a minha frente um céu anoitecendo. Entre as nuvens do vasto horizonte se esconde agora o sol que outrora escaldante quase me derreteu os nervos. E fico com o nada da noite e com o tudo que o silêncio perpassa. Aí sim, sim, a alegria é festa.

Depois das horas perdidas no vazio calado e aflito da solitária noite me dou conta que falta-me a coragem para acreditar na morada que habito e que me causa espanto, a morada dos artistas.

Um oco dentro do estômago socado. Um arrepio de alma, um sonho.

Nada há que se fale para trazer-me a coragem precisa. Falta-me a mochila nas costas e hoje eu quero, mais do que tudo, preciso. Desejo insano, ardente, sem precedentes. Como ar que respiro, sem isso não dá. 
E eu sei que preciso, como um dente podre que torna tudo impossível, eu sei que sem essa dor não sobrevivo. A dor de ser quem sempre fui: Poeta-triste.

Nem sabia, mas tinha aqui dentro um baú, que guardado precisava falar e só se fala quando tudo sai do coração. E como necessito falar, aqui eu digo: o meu encanto sempre foi esse: a poesia.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Meu lugar



O tempo já não quero mais importar, o que eu quero e sei que posso, é o momento pra estar lá...No meu lugar de paz!
Eu que não tenho tido nem eu mesma, nem minha ânsia na procur-ação por mim, no mergulhar que outrora era diário e insano, está difícil e raro em si.

E estou sedenta. Sedenta do meu encontro comigo, e cansada, super cansada de tanta evitação. É que tenho desejado, mas paradoxalmente evitado, não me compreendo e nem acho que dá. Mas está tudo tão doído que me é impossível enfrentar.

Uma dor de dente não passa sem remédio ou extração. E hoje tenho sentido um canino arrancado indolente e desnecessariamente, eu que sempre escovei ritualisticamente os dentes! Como é possível? Não sei, não sei responder a nada agora, eu só quero sentir...me sentir.

E como está difícil. Massacrante está a corrida que disputo comigo mesma. Eu que tenho fugido às léguas de mim. E ouvir que antes era doído, mas menos fingido, está até cinicamente não garantido. Logo agora! O que há que se possa fazer nesta hora?

Não sei mais, estou procurando fôlego para ao menos descansar da corrida, e dormir. Dormir para renovar a pessoa fragmentada, que vos fala: é preciso urgentemente retomar a jornada, e abrir novamente os ouvidos para a música que não parou de tocar, mas que diminuiu o volume.

É preciso, eu preciso mesmo.
de ar.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Ser-poeta



Quem sofre demais?
Chora demais?
Se embebe demais da vida?

Quem acorda no mais alto pico de sono pra escrever?
Quem precisa desesperadamente a si mesmo dizer?
Sente demais, se angustia demais, e não se importa se é a tristeza sua melhor arquiteta?

Que enxerga além, que nem existe de tanta existência?
Que não se preocupa tanto com a aparência?
Que prefere a imersão dolorida de uma vingança de alma (um bom livro) ao esquecimento do automatismo diário?

Quem é assim?
Quem pode viver assim?
Quem se suporta desse jeito senão os loucos? Os loucos dos poetas!
Um dia à vida desses!
Um ode a dois, dois que merecem respeito: Os livros e os que os escrevem!
Aos poetas!


sexta-feira, 16 de março de 2012

Vez outra



Estou tentando acertar os ponteiros de um relógio antigo, de um relógio que havia esquecido no fundo de uma gaveta.
Agora que o achei quero adiantar as horas, como se assim pudesse compensar todos os segundos atrasados no tempo. E é difícil perceber isso e saber ser essa a minha verdade inegável, absolutamente confessável.
Eu confesso que no ponteiro do relógio eu também havia me abandonado, havia deixado tudo guardado no fundo de uma gaveta perdida. E tudo, tudo resgatei pelo velho relógio esquecido, empoeirado e vivido.
Agora, com ele em mãos eu procuro acertar os ponteiros, colocar pilha nova, vida outra pra o tempo que tento perdoar porque passou e perdi.
Perdi e neguei, olho pra trás e o que vejo me confirma, então humildemente tenho que aceitar que eu falhei, sim, falhei. Porque meu relógio precisou de pilha nova e tudo o que eu fiz foi colocá-lo no fundo de uma gaveta...eu que não sabia como pedir ajuda, eu que nunca deixei ser ajudada.
As horas que perdi, hoje tento ressignificar em pessoas outras que conheci, em amigos outros, parentes outros que eu tentei fazer aqui. E não me culpo, aprendi que as horas não apenas precisam ser observadas, sentidas, mas acima de tudo precisam ser bem vividas. Às pessoas que eu magoei com meu atraso, o meu sincero silêncio, porque ele sim falará ao coração de quem assim como eu aprendeu a ler as palavras ditas no vazio.
Aos que eu novamente olhei, não, não esqueçamos o que tudo foi, nem tudo o que hoje é. Porque somos mais do que os acontecimentos, somos mais do que relógios díspares, somos humanos, somos imperfeitos e nisso consiste a nossa beleza.
Quer erramos, quer falhemos, que sejamos sinceros...que seja tentando acertar, que seja honestamente, autenticamente. Que o movimento hoje não seja apenas de uma mão, o movimento seja de dois olhos que enxerguem além, que façam brotar águas salgadas e límpidas que permitem visão além do alcance, permitem amor.
Amemos, a humanidade e tudo o que ela contem.
A dor, o sofrimento, as perdas, a saudade, o ontem, o hoje e tudo o que for de nossa condição.
Amemos. Porque amando a isso, a nós mesmos amaremos. 


terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Ninguém é


Ninguém é.
Todo mundo pode ser.
Imprescindível não existe quando a gente para e pensa.

O outro nos é importante para nos fazer suportar o absurdo da vida, mas nem você nem eu somos imprescindíveis a ninguém.

O desamparo nos é possível porque há tantas formas de esquecê-lo, de sublimá-lo, de expressá-lo. Eu me escrevo aqui nestas linhas, há contudo quem se escreva e inscreva numa pauta musical, quem seja num outro corpo de amor, quem se proteja no calor de outrem.

Eu sou na literatura, na alegria da música também. Sou só e preciso suportar minha solidão comigo mesma, com meus livros, com o que desconheço de mim. E não sei ser sem as artes, sem o prazer de me abandonar na leitura e me esquecer de mim. É preciso se esquecer às vezes, como é preciso!

O Deus me ensinou sobre o necessário na vida e com uma verdade absoluta, universal, irrefutável, afirmo que não sou eu, nem é você.
O necessário, o imprescindível é o nós-conosco, o outro que pode ser você hoje, mas amanhã, amanhã poderá ser qualquer outro.

O indispensável é aquilo que não se vê, o imprescindível é o Deus!


sábado, 18 de fevereiro de 2012

Ser-me





Talvez um dia eu me liberte de tudo o que me atrapalha, me cansa e me faz mal, quem sabe...Quem sabe eu consiga lembrar sem dor de algumas imagens, consiga encarar sem medo e sem lágrimas, momentos que vivi e que ainda estão vívidos em mim. Que recorde, re-cordis mesmo com o coração, sentindo as emoções sem culpa. Culpa por tudo, por nada, por mim.

Por mim que quis sempre fazer tudo certo e que nessa ânsia de acertar, me feri.
Feri tanto que ficou um buraco negro aqui dentro, sem que ninguém pudesse me ajudar a prosseguir.

Porque a ajuda precisava partir de mim, que acima de tudo urgia em pedidos...Pedidos secretos e clementes por socorro, eu que negligenciava o amor à torta e trôpega humana que sou.

Impulsiva, espontânea e destrambelhada...Sou, fui, não sei se serei.

É que não aceito injustiça, não consigo, nem quero.
E é-me injusto permanecer cometendo os mesmos erros, porque da vida só tenho uma certeza: a de que nada é eterno.

Por isso, quero tentar aceitar as minhas injustas medidas, não conformar-me.
Ao contrário, melhorar-me, mas sem pressão, medo, ansiedade, insônia, desespero...
Eu só quero tentar ser-me completa, ser a menina que um dia fui: feita de luz.


quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Conflito



Eu me decepciono facilmente, sempre, sempre que estipulo metas para cumprir condecorosamente. Não sei a razão, tudo bem, talvez eu saiba...É esse mesmo espírito de insubordinação, subversão que carrego tão cuidadosamente. Mas vim aqui para dizer-me outra coisa do além óbvio, porque de obviedade o mundo está cheio. Vim aqui para falar-me em altissonante que detesto a arrogância desnecessária de quem acha que tem grande poder de influência na minha vida, fato.

Fato que só eu sei que detesto, é que não expresso, tenho evitado ferir assim o ego alheio. Porque ninguém faz ideia do quanto pensar muito pode ser pesaroso, até que pense muito...e a ruína de quem a isso se dispõe é justamente o maldito autoconhecimento.

Meu Deus quantas vezes já me peguei em diálogos intermináveis sobre minhas atitudes...quantas vezes reclamei pelas sinceras e impoupáveis verdades que eu sabia, e duramente enxergava?! E pensar que tantas vezes já me chamei de covarde!

Eu queria dizer, só dizer que se estou sendo influenciada não é por alienação, devoção, idiotice, mas por escolha. É que simplesmente cansei de mim mesma sempre mantendo rédeas sobre tudo e me permiti afrouxar a carruagem, perder o controle, fugir da regra, porque como achar-se, perder-se também é necessário.

É necessário para que eu admita que não posso fazer e ter tudo o que quero hoje, que ilusoriamente e por estar sempre só, cheguei a pensar que eu sou quase...um quase tudo, como já disse Clarice L.! Já aprendi que viver sozinha física e emocionalmente, não mata, aliás mata! Mata as ideias tolas que temos de que jamais conseguiremos viver sem alguém a quem nosso coração pulsa acelerado. É descobrir (comicamente trágico) que se você não tiver cuidado passa a se amar mais do que tudo (esse é o problema de quem nunca se amou, quando ama a 1ª vez, enlouquece por si)  Hahaha

Como é a vida! Melhor dizendo...como são as coisas da vida!
Aprendendo sempre, jornada diária! Estou colocando pausas verdadeiras nas minhas escassas vírgulas, eu que sempre fora desembestada para fugir dos outros, agora preciso deles para saber em que parte da pauta a música diminui, em que parte tem que parar.

Não estranhem, não me questionem se e porque eu mudei, pois chegará a hora em que compartilharei, ou não, talvez essa hora nunca chegue. E se quiser me entender caro amigo, não pretendo lhe desmotivar, mas devo avisar que não conte comigo, não agora, não esta semana, que prestes a completar 24 anos de jornada, ainda não alcancei nenhum limiar básico de compreensão...é que como disse F.D: Pais difíceis, filhos sádicos. Hahaha
#Piada interna

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Passaporte para Felicidade




Quero ir até Felicidade ou fazê-la vir até mim novamente.
Ela que pouco foi minha amiga vai saber por que e quem eu fui, isso por mim, claro, que resolvi lhe encontrar. Vou a sua casa porque sempre muito apressada, justa hora em que eu estava de saída, já desacreditada de sua presença, ela aparecia a minha porta cheia de ideias longas e eu nunca tive muita paciência, muito menos tempo para uma boa conversa.

Estive muito ocupada dispensando cuidados ao seu Antônimo, Tristeza, que simplesmente demandou horas da minha compreensão. Mas agora sei que preciso do passaporte. Para lá chegar terei que muito tempo gastar, é que soube hoje que ela mora longe, é de outro país, outro mundo, e que vive em terras longínquas para que sempre que alguém descubra seu endereço, se mude mais facilmente.

Felicidade é difícil, costuma selecionar muito as pessoas e só reaparece na vida de alguém que se propôs a aceitá-la, exatamente como ela é: passageira.

Porque quem teima em ser permanente mesmo é o seu Antônimo.
Por isso que preciso do passaporte o mais rápido possível, Felicidade não pode saber que estou a sua procura, não deve jamais desconfiar. Ela precisa acreditar que eu a mereço e não sei como a ela isso provar.

Eu preciso revelar que não a desprezei por medo, e sim porque ela sempre incomodou meus vizinhos, e eu...? Bem, eu tinha era vergonha. É que não sabia como fazer-me todo Antônimo, nunca soube disfarçar quando Felicidade batia na minha porta, então preferia seguir meu caminho, meus compromissos e adiar o nosso encontro.

Só que hoje eu percebi que Felicidade está velhinha e pode não ter mais a força de antes, e pode esquecer como chegar ao lugar onde moro, fica distante também e, pode não mais querer vir ver-me, pois ela não sabe que apesar de ainda ter vizinhos, já aprendi a perdoá-los por se incomodarem pela sua visita.

Felicidade ficará surpresa quando receber o passaporte na sua casa e o bilhete que com ele enviei, é que foi por mim escrito e muito sinceramente nele eu disse:

Felicidade desculpe-me pelas vezes em que desacreditei em você, nas suas promessas. Por favor, quando vier não bata à porta nem toque a cigarra, Antônimo, que me espreitava através dos vizinhos, já dispensei. Agora os cuidados da minha vida estão entregues apenas a você.
Venha depressa, pois a aguardo ansiosa na janela que agora sem cortinas, me permitirão ver claramente seu caminhar lento à distância.
Com carinho, sua mais nova companheira Lea.