Aqui já usei quase todo o meu repertório masoquista e desfiz boa parte das minhas ideias comunistas. Esse espaço é meu, mas desejei compartilhá-lo com o mundo, se você faz parte dele...Então seja muito bem vindo(a)!

sexta-feira, 16 de março de 2012

Vez outra



Estou tentando acertar os ponteiros de um relógio antigo, de um relógio que havia esquecido no fundo de uma gaveta.
Agora que o achei quero adiantar as horas, como se assim pudesse compensar todos os segundos atrasados no tempo. E é difícil perceber isso e saber ser essa a minha verdade inegável, absolutamente confessável.
Eu confesso que no ponteiro do relógio eu também havia me abandonado, havia deixado tudo guardado no fundo de uma gaveta perdida. E tudo, tudo resgatei pelo velho relógio esquecido, empoeirado e vivido.
Agora, com ele em mãos eu procuro acertar os ponteiros, colocar pilha nova, vida outra pra o tempo que tento perdoar porque passou e perdi.
Perdi e neguei, olho pra trás e o que vejo me confirma, então humildemente tenho que aceitar que eu falhei, sim, falhei. Porque meu relógio precisou de pilha nova e tudo o que eu fiz foi colocá-lo no fundo de uma gaveta...eu que não sabia como pedir ajuda, eu que nunca deixei ser ajudada.
As horas que perdi, hoje tento ressignificar em pessoas outras que conheci, em amigos outros, parentes outros que eu tentei fazer aqui. E não me culpo, aprendi que as horas não apenas precisam ser observadas, sentidas, mas acima de tudo precisam ser bem vividas. Às pessoas que eu magoei com meu atraso, o meu sincero silêncio, porque ele sim falará ao coração de quem assim como eu aprendeu a ler as palavras ditas no vazio.
Aos que eu novamente olhei, não, não esqueçamos o que tudo foi, nem tudo o que hoje é. Porque somos mais do que os acontecimentos, somos mais do que relógios díspares, somos humanos, somos imperfeitos e nisso consiste a nossa beleza.
Quer erramos, quer falhemos, que sejamos sinceros...que seja tentando acertar, que seja honestamente, autenticamente. Que o movimento hoje não seja apenas de uma mão, o movimento seja de dois olhos que enxerguem além, que façam brotar águas salgadas e límpidas que permitem visão além do alcance, permitem amor.
Amemos, a humanidade e tudo o que ela contem.
A dor, o sofrimento, as perdas, a saudade, o ontem, o hoje e tudo o que for de nossa condição.
Amemos. Porque amando a isso, a nós mesmos amaremos.