Aqui já usei quase todo o meu repertório masoquista e desfiz boa parte das minhas ideias comunistas. Esse espaço é meu, mas desejei compartilhá-lo com o mundo, se você faz parte dele...Então seja muito bem vindo(a)!

segunda-feira, 24 de abril de 2017

Culpa e reparação



Eu só funciono à noite, adoro escrever, e sim, escrevo bem. Penso demais também, e seguindo o fluxo acelerado dos meus pensamentos sofro exaustivamente, na mesma intensidade que minhas desesperadas sinapses. No entanto, já aprendi a me manter neutra quando estou transformando alguma informação em conhecimento, e não mais me apresso em emitir minha opinião mesmo quando solicitada. Penso duas vezes, afinal aquela idade em que a impulsividade dá lugar à paciência meio que chegou, forçada ou não, mas chegou.  

Queria dizer aqui também, já que parece um confessionário, que gosto da sensação de estar sempre aprendendo, mas tenho uma enorme dificuldade com rotinas. Estudo por lazer, leio por prazer, pesquiso por puro ódio ao tédio da ignorância. E é como um êxtase, me entrego por completo! Porém agora me recordo que esse problema é antigo e que certa vez um professor me falou sobre esta dificuldade de seguir rotinas, e isso em tom de questionamento afirmativo (se é que vc me entende!)... Mas eu senti como uma grave acusação, claro! Como assim descobriram minha maior fraqueza sem meu consentimento?! Diante do fato me denunciei, obviamente não com palavras, apenas com uma expressiva careta. Tenho mesmo, não nego, nem jamais virei a negar que odeio rotinas, embora reconheça a urgente necessidade que tenho delas. Preciso de rotina pra fugir um pouco de mim mesma, porque sofro de ansiedade aguda, latente, desesperadora, e o ócio nunca é produtivo se eu não me agarrar a algum livro ou de vez em quando a um dorama (também sou gente e adoro um drama!). Mas, como tudo na vida, sou feita por épocas...e esse é meu maior drama! É que me entedio fácil, nem sei explicar. O que hoje me chama muita atenção eu esgoto em algumas horas e já era. Eu sou aquele tipo de pessoa louca...na minha vida há momentos em que só assisto dramas históricos e há outros em que comédias românticas clichês me salvam.

Tô aqui descrevendo essas coisas todas como se fosse acordar amanhã após 8h de sono reparador. Mas além de já ter ultrapassado a hora máxima pra dormir esta noite, eu tô pensando é na aventura que vai ser acordar na hora certa amanhã (nas 1000x que vou colocar o despertador na soneca!), na aula de terça que vou dar, no que vou comer amanhã e de praxe no ócio do dia de hoje que graças a uma gripe ou virose ou infecção respiratória (sei lá o que é que tenho!) passei o dia mal, a maior parte deitada após muitas nebulizações. Mas nem sei porque loucamente comecei a disparar e escrever aqui. Honestamente meu ócio chegou no limite do inaceitável e talvez isto aqui seja uma tentativa de dizer que não foi tão ruim assim..

Tenho 8 meses pela frente, muitos quilômetros a percorrer, muitos livros a ler, muitas unhas por pintar, muita gente tediosa a aguentar, muitos alunos pra responder, muita gente boa a conhecer e muita gente chata também a aturar. Mas sobretudo tenho tempo pra usar e francamente essa é a parte que me assusta. Preciso de uma rotina diária pelo menos de alimentação decente, balanceada, até porque não conheci ninguém que sobreviveu de livro, filme e internet (a ordem a gente nem vai comentar!). Estou necessitada de uma atividade física e esse texto nem é uma tentativa de recriar aquelas listinhas mentais que todo ano a maior parte das pessoas fazem para se prometer o que vão e não vão fazer no ano que se inicia. Eu tô escrevendo por algum desencargo de consciência mesmo sobre o dia de hoje. 

Fazia um tempão que não me sentia culpada por ficar largada no ócio, talvez porque me deixei entregue ao meu corpo preguiçoso, esguio e febril não apenas hoje. Agora o cérebro pensa e o corpo padece, porque a culpa é uma merda. Mas chega de dias ociosos demais, inúteis demais, fúteis demais. Chega de ficar na superficialidade, mesmo que o existencialismo sartreano tenha me cansado. Eu quero é sofrer! Ficar na impropriedade, no inútil do Ser não deve durar mais do que 1 mês, e acho que tô batendo o recorde nisso aí e é melhor começar a ter medo mesmo... vai que eu me acostume e ache a inexistência confortável?! 

Agora já deu minha hora e preciso ir, prometo voltar aqui pra falar sobre qualquer coisa, mesmo que existencialista demais, mesmo que sobre Nietzsche! Beijo para mim e para quem teve paciência de ler até o fim.