Eu vejo a minha frente um céu anoitecendo. Entre as nuvens
do vasto horizonte se esconde agora o sol que outrora escaldante quase me derreteu
os nervos. E fico com o nada da noite e com o tudo que o silêncio perpassa. Aí
sim, sim, a alegria é festa.
Depois das horas perdidas no vazio calado e aflito da
solitária noite me dou conta que falta-me a coragem para acreditar na morada que
habito e que me causa espanto, a morada dos artistas.
Um oco dentro do estômago socado. Um arrepio de alma, um
sonho.
Nada há que se fale para trazer-me a coragem precisa.
Falta-me a mochila nas costas e hoje eu quero, mais do que tudo, preciso. Desejo insano, ardente, sem precedentes. Como ar que respiro, sem isso não dá.
E eu sei que preciso, como um dente podre que torna tudo
impossível, eu sei que sem essa dor não sobrevivo. A dor de ser quem sempre fui:
Poeta-triste.
Nem sabia, mas tinha aqui dentro um baú, que guardado
precisava falar e só se fala quando tudo sai do coração. E como necessito
falar, aqui eu digo: o meu encanto sempre foi esse: a poesia.