Aqui já usei quase todo o meu repertório masoquista e desfiz boa parte das minhas ideias comunistas. Esse espaço é meu, mas desejei compartilhá-lo com o mundo, se você faz parte dele...Então seja muito bem vindo(a)!

terça-feira, 17 de novembro de 2009

InCômodos



A vida tem muitos cômodos, mas me aterei hoje aos quartos.
Há os quartos claros e também os escuros. Os abertos e os fechados. Os úteis e os inúteis.
Os fúteis e os desvalorizados que desesperados deixam qualquer um entrar.
Há os silenciosos não pela ausência de ruído, mas pelo som quase inaudível de suas paredes.
Há aqueles que possuem janelas para o mar e os que possuem janelas apenas para o chiqueiro, mas há os sem janelas também.
Há os que preferem a ausência de cheiro ao enauseante cheiro do mar. Tudo é questão de olfato. Preferências não se discutem, certo?
Há quartos que desejam e há os que querem apenas ser desejados.
Que o meu querer se transmute não mais em sofrimento, mas em glória. E meu quarto outrora trancado em sua própria escuridão permaneça agora iluminado e, se porventura a porta precisar ser aberta que seja sábio aquele que a abrir, pois Nêmesis está dormindo, não morta. Se despertada é pura fúria e selvagem!

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Sentir

Eu sinto a dor dos flagelados, dos miseráveis desabrigados, dos desafortunados, não por escolha própria mas por ter olhos e enxergar.

Enxergar-me no mendigo deitado na calçada, na criança abandonada, no trabalhador desempregado e em todos os humanos desgraçados, devorados pela injustiça do devir.
Sinto e continuamente sofro, porque neles percebo as mazelas humanas que também me são comuns. Mazelas que preferiria covardemente não saber. Mas sei, e me angustio.
Porque o mendigo sou eu, o marginalizado, o desesperado e o aterrorizado também sou. Mendigo de mim mesmo estou à margem do que poderia me tornar, e me desespero por tudo isto enxergar. Aterrorizada fico por não conseguir mudar nem a minha, nem a realidade de outro alguém.
E choro amargamente, choro por existir em meio a tanta desigualdade. E calo o meu grito neste texto e reprimo minha angústia, mas não sufoco minha revolta, não sufoco pelo medo. Medo de minha existência não fazer a menor diferença num Brasil, num mundo desumanizado.
Ainda sofro porque não conseguiram me animalizar, continuo humana e enquanto assim eu for, espero ardentemente que me reste a esperança. A de lutar, de ousar e de vencer. Vencer o ódio, a insensatez, a discriminação e a insensibilidade que alcançou mais da metade desta triste civilização.
Desejo, quero, e sinto. Não por mim, mas pelas próximas gerações que hão de vir!