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quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Sobre(vida)



Nunca gostei de pratos rasos. 

Eu que sempre fui intensa passei a vida usando hipérboles, mas não passei de uma metonímia de mim mesma, a artista que sou. Eu que ironicamente gosto de brincar com as palavras tive desde cedo a consciência dos meus limites.  Mas como transpô-los? Ah, me perdoem os adoradores de hipérboles...mas ela esconde um pouco desse prato raso que às vezes a vida moderna é! E como é urgente essa necessidade de fugir da realidade que insiste em bater na porta da minha consciência.  Mas urge em mim ainda mais a crueldade da qual não posso fugir e que embora tendo escapado muitas vezes enfim, uma vez tocou-me profundo...o quase morrer. O "e se eu tivesse morrido?" pela primeira vez foi latente, abafei gritos estridentes que me forçaram bruscamente a mudar. Eu precisava, por mim. Mas ainda me é difícil não resistir. Passei tanto tempo igual que é difícil ser diferente.  No entanto estou aqui viva e aprendendo a viver sigo na busca...muitas vezes esdrúxulas, muitas vezes neurótica, passo horas pensando no que nunca consigo falar. Por essa razão eu vim aqui dizer,  desse encontro comigo que fazia tanto tempo que eu não queria ter. Eu quase morri, sabiam? E a certeza da morte me amedrontou desta vez.  O sofrimento que já não era espera, mas doía, foi a mola certa, foi a crônica de vida que eu precisei.

Por quê? 

Porque a morte passou por mim e me deu um tapa na cara, e eu que sempre fui ousada não revidei. Aceitei humildemente que ela tinha razão e que era eu que desesperadamente precisava mudar. Acordei de uma segunda cirurgia, mais fraca, menos valia, arrasada por nada poder. Me senti traída pela morte e agora que eu tinha vida precisava levantar. Dei uma rasteira nos meus medos, fui caindo em desespero, mas nada podia além de chorar. E chorei, chorei muito, não podia falar. Estava impossibilitada de usar palavras, estava amarrada e tudo que saíam eram minhas lágrimas moídas pela dor lancinante de ver quão fraca eu sempre fui. É tão difícil ser humana, ver de fato como somos e o limite que nos separa do oxigênio artificial.  
Fiquei com muitas marcas. Tenho cicatrizes. 7 placas, 41 parafusos bem no meio da cara para ser mais exata. A morte não me levou, mas fragmentou vários ossos. Por isso os sintomas ainda persistem. Mas para além das minhas dores e medos, minha vontade de viver. De experimentar o que eu nunca me permiti. De sofrer mesmo com toda ansiedade e dor que minha intensidade me fez lembrar de desistir. 
Enfim...cansei. 
Cansei de mim, de minhas máscaras de fortaleza inacessível que me fizeram ser quem sou.  Eu não quero perder a vida sem saber como foi viver.  Não posso mais lidar com isso, foi forte a tapa que levei, ainda estou me recuperando, meu queixo formigando me lembra disso todas as noites e sou grata. Passei perto do inferno, mas a morte me deu uma chance e agora preciso aprender a aproveitar. Com um pouco de neurose, inevitável, mas hei de aproveitar.

Texto escrito em 14 de nov de 2016.

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