Aqui já usei quase todo o meu repertório masoquista e desfiz boa parte das minhas ideias comunistas. Esse espaço é meu, mas desejei compartilhá-lo com o mundo, se você faz parte dele...Então seja muito bem vindo(a)!

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Para a alma

Ouço música, uma daquelas que te fazem suspirar e tremer.

Ouço-a com paixão.

É a minha vida tocada em vários acordes, são partes de um solo de piano mesclados com o belíssimo de um cello e por ora com toques de harpa.

Não a sei expressar tão bem quanto a ouço, talvez em morte ela consiga a si própria dizer.

Desejo todos os dias não somente ouvi-la, mas escutá-la com minhas entranhas a vibrar por tudo que já fui e pelo humano que desejo alcançar.

Tudo parece tão longe e ao mesmo tempo tão perto.

Jamais achei que sentiria a graça, a glória dessa vida, mas achei em vão. Posso senti-la e apesar de serem por momentos tão breves, sinto-a com uma volúpia ardente e inexprimível de tão doce e dolorida. Outrora li que doar-se demais dói, mas e não doar-se?

Deve ser insuportável assim como ouvir uma música e não senti-la.
Insustentável é depois de tudo escutar nada se tornar diferente.

Diferença diferença eu quero a diferença! Deixo a indiferença para os mortos, estou viva e minha música, os instrumentos que venero, sim esses eu preciso, preciso ouvi-los, quero vê-los sempre tocar: Tocar ora a minha própria alma, ora a dos outros.

Deixem-me ir, a música toca e o tempo não pára!

Fraternal

Tenho uma alma muito vívida e frenética e voraz e sedenta pelo desconhecido. Um espírito incansável que não quer parar nunca, mas que pára. Pára e eu sei quando e como.

E me assusto diante das fragilidades tão humanamente minhas!

Esses dias quase entrei em êxtase lendo-me em um livro e quase pra mim é sempre tão irritante. É uma coisa que me aborrece esse limite presente. Queria a loucura que precisa se manter sã neste silêncio ilógico agora.


Queria ser alcançada pelos meus gestos mas tudo o que vejo ao meu redor são sons, vejo sons não mais os ouço, e pior, nem os sinto. Vejo! Sim e tenho raiva de perceber isso.
Angústias que me surgem por não conseguir ouvir meu próprio grito.

Minha alma perdeu a voz, e a força de querer compreender também.

Deixei ir a razão da loucura que me sustentava, deixei ir. E agora? Agora tudo o que tenho é um amigo e o espaço vazio entre nós dois. Milhões de partículas que nos formam e sobretudo que nos unem em compreensão. Mas tenho medo! Medo surreal de perder a única coisa que me faz acreditar no sentido dessa vida aqui. E se...?
Nem sou pessimista, mas o "e se" bloqueia a minha criatividade e me recluso.

Nem quero tentar sair desse escafandro que escolhi. Inevitavelmente continuo achando tudo a soma de todas as partes uma grande merda. E não peço o perdão da palavra, este espaço é meu e falo para o mundo os pensamentos que me vierem à tona.

O mundo, um mundo, de gente cretina, perversa e inútil que me obriga a enxergar o que não quero: tudo só tende a piorar!
Ó Deus não nos deixe cair em tentação, nos livra das armas, da violência e dos cretinos, amém!

Ps. o que existe entre nós dois é um milagre e depois que somos agraciados com um, não nos conformamos com míseras esmolas de coleguismos. Se você sair da minha vida, te mato!
Recado dado: "Quem avisa amigo é".

Um grato

Estava terminantemente sentado a observar os transeuntes que iam e vinham num ritmo tranquilo, mas incessante.

Foi rápido o momento que passou de observador a observado, e aproveitando-se da situação ousou receber carinho, mas numa tentativa frustrada esquivou-se, afinal: era um gato não um homem.

Como tal percebia seu lugar na ordem das coisas e permanecia com o olhar de abandono, de bicho que não se importava mais.

Indiferente a todos, dispersava sua atenção vez por outra nalgum passo mais apressado que podia pisar-lhe afinal: era um gato não um velho homem.

Um velho já bem decrépito estava à espera da sua vez, da hora em que haveria de entrar no transporte que o levaria de volta à sua terra, tão precisa hora em que o gato chamou-lhe a atenção. Foi fatal para a existência persistir em meio ao caos de indigentes ali: ele era um gato mas o velho era humano e o levou para uma cidade bem distante dali.

Um lugar

Fui a primeira a entrar no ônibus, não porque desejava o primeiro lugar mas porque a ansiedade me tomava e precisava descansar.

Quero um sentido e não, não estão certas as coisas aqui.

Não me orgulho do que sou hoje, nem poderia pois sei que posso mais.

Estou acolá e construindo meu espaço mas ainda não sei a medida. Não tenho tempo a perder e tenho todo tempo do mundo. Preciso descansar, já não há mais nada a se pensar.

Quero as ações, mas elas fogem de mim.

Estou inerte, sem ler, sem ouvir, apenas vejo e me assusto porque nem lágrimas nem prantos, nem risos nem desesperos, nada.

Já não há mais o que fazer para afastar essa indiferença que quer me consumir.

Unheimliche

Queria falar para.

Dizer da minha dor, talvez essa angústia que me consome ousasse me abandonar.

Mas não posso, na verdade não consigo. Sinto por mim, sempre acho que está perto o meu fim. Penso que ou eu a sucumbo ou serei sucumbido por.

Se angústia tivesse cor, a minha seria escarlate sobretudo porque é vida e vida é sangue e alma e existência e, a minha, a minha não tem feito o menor sentido aqui.

Que se salve quem puder ser!