Aqui já usei quase todo o meu repertório masoquista e desfiz boa parte das minhas ideias comunistas. Esse espaço é meu, mas desejei compartilhá-lo com o mundo, se você faz parte dele...Então seja muito bem vindo(a)!

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Sobre o amor



Uma constatação: O amor é difícil.

Difícil porque amar é uma escolha e nem sempre estamos dispostos a escolher. Às vezes tudo que queremos é empurrar todas as coisas com a barriga, assim como fazemos com pequenas decisões do dia-a-dia, como comprar ou não comprar determinado produto sem ter o prazo de garantia estendido.


É que a gente tem medo do que pode vir a acontecer com o produto...e depois? Depois de quebrar (todo produto está sujeito ao desgaste) dá tanto trabalho levar pra assistência técnica, e depois porque passaremos um tempo sem desfrutar do que compramos que há momentos em que desistir é simplesmente a melhor das alternativas. Nem comprar, nem dar aquela “olhadinha” nos benefícios dos produtos.  Não fazer investimentos que não temos uma garantia parece ser a solução em alguns períodos da nossa vida. Mas é inútil pensar assim, a vida não é uma loja, o amor não é um produto de liquidação com prazo de garantia de 03 meses e não há prazo estendido para quem escolheu amar. Aliás, sua única garantia (sinto em te dizer!) é doação. Isso mesmo, doação. 

Amor é doação, essa é a única garantia. 

Porque o amor é mais e é além, é uma escolha diária trabalhosa, não porque seja um sentimento. Mas porque para senti-lo todos os dias intensamente precisamos nos desligar de muitas coisas e precisamos fazer sacrifícios sem limites. E por que somos todos bobos no amor pensamos que amar é prejuízo, é concessão tola e fútil. Mas não é...Amar é apenas a mais sábia decisão, afinal quem morreu de amor? Romeu e Julieta? Não não, Romeu e Julieta morreram porque um não suportou viver sem poder amar o outro. 

Amar é difícil, mas viver sem amor...bom, isso sim é de fato impossível! 

sexta-feira, 27 de junho de 2014

Uma carta para voinha


Estou com vontade de chorar meu ser inteiro. De falar por lágrimas, do amor que eu tenho e que nunca soube dar a tanta gente assim.

Eu tenho poucas pessoas indispensáveis, tenho pouco amor, mas o que eu tenho eu não admito a ideia de perder. É que dói demais saber que certas pessoas não duram para sempre.

O amor é eterno, então por que as pessoas morrem?

Ninguém entende que amor de vó é um copo de leite derramado duas vezes na mesma boca do fogão? Se demorar, o tempo só faz o leite se fixar mais!

Não há nada do mundo que eu possa comparar, mas posso falar do sentimento de gratidão que eu tenho pela senhora, minha avó, a mulher temente a Deus que me ensinou tudo o que eu sei hoje a respeito do Deus Pai.

Das histórias que me contou eu lembro bem de quando falou sobre o céu, eu tinha quatro anos...e disse que iríamos morar lá e que teríamos a companhia dos animais, do leão e dos grandes bichos selvagens, que no céu não nos fariam mal.

Também me disse um dia que viu um anjo enorme, do tamanho da porta da igreja, e ele tinha uma espada desembainhada...engraçado voinha, é que nesse dia eu não dormi.

Contou dos cangaceiros, dos quais nunca teve medo.
Dos livramentos de Deus na vida, e do enorme amor que Ele tinha por toda a humanidade.

Foi de tanto contar tudo isso que eu quis esse Deus pra mim também. Queria esse amor, queria um pai, como chama todas as vezes às 3h da madrugada.

Quando criança eu era muito esperta, acompanhava tudo bem atenta...se lembra? Na primeira oportunidade depois de saber que também falava com Deus de madrugada, eu me levantei, e desde então te acompanhei. Eram todas as noites incansavelmente, e eu ia junto...e aprendi a ouvir o silêncio da madrugada como amor... E que amor!

Respirava Deus, acordava com Deus e pedia pra Ele ficar com com a gente mesmo quando errássemos, e o mais bonito, Ele ficava. Voinha talvez a senhora não saiba, mas de tanto que amou a Deus, eu passei a amar também. O amor transborda...e transbordou porque era amor.

Queria que visse que eu aprendia, e tudo o que eu aprendia eu te contava, ensinava também. Até as tarefas da escola, eu te mostrava na esperança de um dia ensiná-la a ler.

“Que amor grande", eu pensava..."minha avó gosta mesmo de mim!". Porque mesmo eu doente ela nunca reclamou. Sabia me amar com o amor que eu precisava, e não pedia de vergonha, sempre fui vergonhosa quando o assunto era amor.

Painho e mainha se separaram e eu não entendia voinha! Por que todo mundo tinha família e eu não tinha ninguém?! A senhora foi o porto seguro quando tudo parecia sem sentido.

Ninguém entendia quando eu emudecia, bastava a senhora olhar pra mim e minhas lágrimas já desciam. Com tanto respeito e admiração eu nunca soube negar um pedido, nem escondido eu fazia carão. Tudo era assim, a gente nem brigava, antes de me aborrecer, calava...e já sabias que eu estava abusada. Porque mesmo com todos os erros eu sei que me amavas.

Com voinha sempre foi assim: não tinha tempo ruim! Se as coisas estavam boas, a gente orava, se estavam ruins a gente orava e ainda louvava. Se estavam insuportáveis, a gente orava, louvava, jejuava e fazia campanha de oração até Deus responder.

Nunca a vi de cara feia com algum problema ou brigar com meu avô. Por essas e outras eu a achava perfeita, porque me fazias sentir assim também, perfeita...e ninguém no mundo me fez sentir mais importante que a senhora, quando juntas estudávamos a Bíblia. Era um olhar de respeito e gratidão que eu me emocionava.

Sei que jamais vou receber outro presente como o que recebi...morar com alguém que já era um anjo de Deus pra mim. Foi por causa de seu exemplo de vida que aceitei amor de Deus por mim, voinha. Eu queria ser amada por um Pai, que sabia: eu era falha, mas precisava de amor. Porque todos precisam de amor.

Voinha, a senhora pode até morrer, mas sei que o que me ensinou jamais dormirá em mim. Eu te amo muito muito e lembro de todo o amor que me deu quando eu precisei e não pedi.

Quando eu tinha medo e a senhora só olhava pra mim.
Lembro bem de todas as vezes que eu fui pro hospital e a senhora tinha medo de me perder, eu via isso, mas a senhora orava e a gente ia calma, porque Deus era nossa companhia.

Eu sei voinha, que não pude te poupar de muita gente que não te respeitava e compreendia. Porque eu nem sabia como me proteger! Ainda bem que pelo menos eu sempre amei você. Minha avó, minha mãe e minha única amiga.

De todas as idosas do mundo, a senhora sempre foi a mais arengueira!
De todas as avós, a mais sábia.
De todas as mães, a mais batalhadora.
De todas as pessoas, a mais ingênua...eu tinha até raiva do tamanho da sua bondade e ingenuidade!

Te admirei a vida inteira, sempre quis ser uma cristã como a senhora e desejei que Deus me desse a chance de te dizer toda hora que eu te amo.

Pra muita gente eu sempre fui seu chiclete, pra mim eu só te amei demais pra aguentar ficar longe. Quando Deus nos separou, Ele queria me mostrar que o maior amor tem que ser dEle...hoje eu sei disso, mas ainda não admito um dia te perder.

Sei que preciso aprender muito, e queria que a senhora vivesse até morrermos juntas, porque meu desejo era que a senhora visse que seus esforços não foram em vão e eu aprendi tudo o que me ensinou.

Queria também que me visse casar um dia, e ter uma família, e a senhora ser a avó maravilhosa que é pra mais gente também. Mas o futuro não é meu nem teu, voinha, o futuro é de Deus.

Aprove o Senhor minha oração, de com essa carta te fazer sentir-se ainda mais amada, porque eu te amo mesmo, e quero que sua memória nunca falhe nisso!  

Nos encontraremos lá no céu, com coroa de pedrinhas lapidadas e colocadas pela mão de Jesus. Tomara que lá no céu tenha sabonete senador que é pra eu dar bem muito beijo quando a senhora sair do banho toda perfumada!

Te amo! 

quinta-feira, 19 de junho de 2014

Banho de alma


Tomei um banho.
Desses de cabeça, que a gente toma pra lavar não só o corpo, mas também a alma. E deixar ir embora todas as dores, todas as palavras sufocadas pelo medo.
O medo fundamental.
Ainda me resta uma parte, que insiste em mim permanecer amarrado...mas não saberei viver sem, não agora. Agora que preciso tanto me segurar.
Preciso fechar muitas frestas, sobrou-me as arestas.
Mas estou tão cansada que por hora desisto, desisto pra me dar paz.
Não dá pra continuar lutando assim, contra mim. Tenho tantas outras coisas que esta eu vou deixar, deixar passar, pra quando o tempo der, e eu estiver aqui, resolvê-las.
E se isso nunca vier? Não tem problema...Eu tomo outro banho!


segunda-feira, 12 de maio de 2014

Sobre medos e agonias


Nunca tive medo do escuro, jamais fiquei sozinha no mar.

Nunca atravessei assustada uma avenida, é que não me apavoram muitos carros, caminhões e motos. Morei próximo a uma BR, e apesar das insistentes proibições da minha avó de atravessar sozinha aquilo que nos separava, nunca tive medo.

Nunca gostei de visitas, tenho medo de invasões. Sou reservada, sempre sofro calada e não gosto de me compartilhar. Se tenho um amigo, morrerei tendo-o, porque para alcançar meu coração foi preciso mais do que uma visita, foi preciso ficar.

Tenho agonia, da vida! Tanto tanto que às vezes finjo não viver...só pra tentar provar algum controle tolo. É que me dói às vezes saber não o ter.

Sobre um medo fundamental? O da separação. 
Palavra dura de se ouvir, muito mais de se ver. Vi tantas que sempre tive medo, porque de repente sangravam os olhos com águas salgadas, era difícil conter. Tão profunda era a dor que só depois de chorar todo salgado, era que a vida ficava doce, e se acalmava.

A vida nunca foi fácil, eu que desde cedo conheci tantas dores. 
Mas a vida nunca foi difícil, existe sempre a agonia, ela é boa, faz chorar...e chorar? 
Chorar dá calma, desalenta a alma numa fundura sem fim. 
Chorar alenta, esquenta e faz nos sentir vivos. 
Chorar é água que sangra, e rio grande sempre deságua no mar, que salga, tempera, dá vida. 
Chorar pode não ser a solução, mas ainda é remédio, pra alma doída, ferida, de coração que pulsa, salta e treme de medo.

Por que, que é o medo senão a carne? Carne que sofre pelo que não sabe, pelo que não pode ver, pelo que desconhece?! É que de carne somos, dá muita agonia de ver, mas veja, veja mesmo se não é igual: todo mundo que morreu, um dia fedeu.

“Morreu, fedeu”, lei da vida. Sobre medo? a agonia entende!