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segunda-feira, 12 de maio de 2014

Sobre medos e agonias


Nunca tive medo do escuro, jamais fiquei sozinha no mar.

Nunca atravessei assustada uma avenida, é que não me apavoram muitos carros, caminhões e motos. Morei próximo a uma BR, e apesar das insistentes proibições da minha avó de atravessar sozinha aquilo que nos separava, nunca tive medo.

Nunca gostei de visitas, tenho medo de invasões. Sou reservada, sempre sofro calada e não gosto de me compartilhar. Se tenho um amigo, morrerei tendo-o, porque para alcançar meu coração foi preciso mais do que uma visita, foi preciso ficar.

Tenho agonia, da vida! Tanto tanto que às vezes finjo não viver...só pra tentar provar algum controle tolo. É que me dói às vezes saber não o ter.

Sobre um medo fundamental? O da separação. 
Palavra dura de se ouvir, muito mais de se ver. Vi tantas que sempre tive medo, porque de repente sangravam os olhos com águas salgadas, era difícil conter. Tão profunda era a dor que só depois de chorar todo salgado, era que a vida ficava doce, e se acalmava.

A vida nunca foi fácil, eu que desde cedo conheci tantas dores. 
Mas a vida nunca foi difícil, existe sempre a agonia, ela é boa, faz chorar...e chorar? 
Chorar dá calma, desalenta a alma numa fundura sem fim. 
Chorar alenta, esquenta e faz nos sentir vivos. 
Chorar é água que sangra, e rio grande sempre deságua no mar, que salga, tempera, dá vida. 
Chorar pode não ser a solução, mas ainda é remédio, pra alma doída, ferida, de coração que pulsa, salta e treme de medo.

Por que, que é o medo senão a carne? Carne que sofre pelo que não sabe, pelo que não pode ver, pelo que desconhece?! É que de carne somos, dá muita agonia de ver, mas veja, veja mesmo se não é igual: todo mundo que morreu, um dia fedeu.

“Morreu, fedeu”, lei da vida. Sobre medo? a agonia entende!        

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