Aqui já usei quase todo o meu repertório masoquista e desfiz boa parte das minhas ideias comunistas. Esse espaço é meu, mas desejei compartilhá-lo com o mundo, se você faz parte dele...Então seja muito bem vindo(a)!

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Primeira.

Quando sai de casa a primeira vez acompanhada apenas de mim mesma foi para comprar figurinhas para o meu álbum. Aquelas me parecem que foram as melhores férias que já tive. Sempre me reunia com todos os meus amigos para mostrar as figuras repetidas e trocávamos uns com os outros para ganharmos prêmios.

Lembro-me de como me senti. Era um dia de sol, não havia nuvens no céu, ele estava límpido e ventava pouco. Além da aventura de sair sozinha, eu suava muito, pois fazia bastante calor. Peguei o dinheiro e sai.


Parecia que eu carregava dentro do bolso todo o poder do universo que estavam dissolvidos em quatro moedas de vinte e cinco centavos.

Uma diversão medonha de criança astuciosa. Mas eu não podia mais ser tratada como criança, já estava com 21 anos. E fiquei olhando as pessoas que iam sozinhas na rua, pessoas que deveriam ser independentes também. E me vi pela primeira vez como uma delas. Nunca houve nenhuma sensação que pudesse ultrapassar esta.

Ser grande foi meu sonho. Cresci, meu corpo era de uma jovem, mas minha mente, diziam ser ainda de uma adolescente. Sou portadora de uma rara anomalia. Meus pais me tratam como se eu fosse uma inválida... Talvez eu deva ser, não sei. Não gosto de pensar muito a respeito, sempre me sinto triste.

Tenho agenesia parcial do corpo caloso, esse nome estranho que minha prima ensinou meus pais a falarem. No começo, quando descobriram a doença, disseram que eu poderia ter uma vida normal. Nunca tive, uma grande mentira estavam me dizendo

Quis muito isso, e acreditei. Por tanto tempo acreditei que poderia ser igual a todos. Mas a diferença que eu carrego dentro da minha cabeça nunca me fazia igual. Sempre me olhavam com pena, e até mesmo com um olhar que eu sempre achei besta. Mas eu gostava de me sentir assim, achava que aqueles olhares eram de amor.

Mas um dia percebi que aquilo nunca foi amor. Fiquei decepcionada, queria ter uma vida como todos, desejava casar, ter filhos e direito de sair sozinha quando quisesse. Negaram isso tudo a mim o tempo todo e eu nunca reclamei, pensava que os adultos sabiam o que era melhor para mim.

Quero uma vida de igual para igual. Tenho um corpo caloso reduzido, nem sei o que isso tem demais, mas percebo que sou lenta para fazer as coisas e sempre sempre, esqueço de parar de fazer bisouro. É, parece ridículo, mas é um hábito que não consegui me livrar. Talvez um dia, quem sabe!

Vou começar a estudar este ano, 2010 parece que será melhor para mim. Minha mãe talvez tenha entendido que eu preciso ver pessoas além dela, dos meus primos e do meu pai. Espero que eu aprenda logo muitas coisas e que finalmente eu possa ir sozinha para escola. Tenho muitas conquistas a fazer. Depois virei aqui pessoalmente dizer a todos vocês.

Aguardem o meu retorno!

2 comentários:

  1. eu sou mãe de uma criança de 5 anos c agenesia mas não foi por isso que eu tirei ele do contato c o mundo, pois ele estuda numa escola municipal e aprende tudo que a gente ensina.Faço por ele o meu melhor jamais deixe alguem apagar o seu brilho lute e jamais dexista poque voce é igual ou bem melhor do muitas pessoas que não sabem valorizar a sua capacidade. Beijos espero que voce leia este comentário e me envie resposts.

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  2. Ps.Este blog é literário e portanto os textos são frutos ora de experiências ora de imaginação. Não sou portadora de Agenesia. O texto partiu de uma experiência com uma portadora.

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