Aqui já usei quase todo o meu repertório masoquista e desfiz boa parte das minhas ideias comunistas. Esse espaço é meu, mas desejei compartilhá-lo com o mundo, se você faz parte dele...Então seja muito bem vindo(a)!

sábado, 6 de agosto de 2011

Porque ajudar faz bem




Um domingo de sol, muito sol.

O dia amanheceu conforme o previsto e o desejado por mim e por mais outras 11 pessoas. Estávamos preparados para a aventura (I Mutirão de Banho no Abrigo de Cães da Dôra) que nos esperava no bairro da Muribeca na cidade de Jaboatão do Guararapes. Para quem conhece a RMR (Região Metropolitana do Recife) sabe que o lugar onde o abrigo tem sede é de difícil acesso.

Ao chegarmos percebi que não tinha dimensão do quanto seria atingida por aquela aventura, tudo só ficou claro quando me deparei com um portão e muitos olhares. Os olhares eram dos cães que esperavam curiosos, clementes e felizes por algo que nem eu, nem eles sabiam. Parecia que nós éramos desbravadores, super-heróis e que nossa ação não seria social, mas realmente animal. 

Senti minha humanidade ali. 
Fui duramente afetada por imagens difíceis de descrever e digerir. As palavras são pequenas para dizer a tristeza que me atingiu, a realidade literalmente crua que se mostrou a mim e aos outros voluntários. Não havia opacidade nos animais, tampouco nos olhares dispersos numa ansiedade que era minha e acho que de todos também.

E entrei com vontade de não voltar, de não ver, não querer estar ali, aqui, entre nós. A miséria da humanidade tem nome e se chama individualismo, estávamos na Muribeca comprovando isso.

Um abrigo, dois terrenos, um casebre aos fundos, algumas construções ainda por acabar, telhas, cachorros, um ser humano dividido em 11 outros seres e muita, mais muita boa vontade.

Mas lembro aqui que infelizmente a boa vontade sozinha não pode mover o mundo repleto de corações ressecados pelo egoísmo. Portanto Maria Auxiliadora Florêncio, D. Dôra, como é conhecida, proprietária do abrigo de cães que leva seu nome, precisa de ajuda para manter em condições dignas a vida dos 116 cachorros que se encontram sob os seus cuidados¹. Na situação precária de espaço e higiene em que vivem os bichanos, alguns estão gravemente doentes, pois como boa parte desses animais é trazida da rua, já chegam ao local contaminado por várias doenças, entre elas a cinomose que requer cuidados especiais não disponíveis pela ausência de infra-estrutura, vacinas e medicamentos.

Além disso, há o problema da leishmaniose que é uma zoonose que merece atenção, pois atinge o homem também. Havia um número considerado de cachorros bastante doentes, uns até em estágio terminal e outros que devido à fragilidade poderiam facilmente ser vítimas do mosquito transmissor, já que um número considerado tinha os sintomas da doença.

Havia caixas d água espalhadas pelo ambiente, todas devidamente vedadas, claro. Mas aí fiquei imaginando como aquela mulher (diga-se de passagem, guerreira) conseguiu manter o abrigo e todos aqueles animais com tão pouco auxílio.

Bom, antes de dar por encerrado esse texto gostaria de falar da maravilhosa impressão que me foi deixada desse dia. Antes de entrarmos éramos estranhos para os cães e uns para com os outros, (lá só conhecia minha irmã) mas a recepção foi calorosa do princípio ao fim, até estabanada em alguns momentos, mas o prêmio do dia surgiu antes de sairmos e foram os olhares de satisfação e os cumprimentos agradecidos daquelas criaturas tão fiéis a nós míseros humanos. 


A isso não há dinheiro no mundo que possa comprar.


Portanto tenho a certeza que pelo pouco que ajudamos saímos de lá melhores, não maiores, mas mais dignos porque fizemos a diferença. Porque ajudar não faz bem apenas a quem recebe, mas principalmente a quem de fato ajuda, nessas horas os bons sentimentos se multiplicam e as esperanças de um mundo melhor reaparecem.
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¹Contagem dos animais realizada no dia 10 de julho de 2011


(Os voluntários)

Quem se sensibilizou com essa história verídica e deseja ajudar porque sabe que só se sensibilizar não é suficiente (é preciso agir para tornar o mundo um pouco melhor!) entre em contato para mais informações.
"O que plantamos hoje colheremos amanhã!"

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