Acordei com o cachorro da miséria lambendo-me a cara velha. Num súbito despertar de quem se assusta com algo, dei-lhe um murro. Não quis feri-lo, mas enquanto durmo já é de se esperar reações por puro impulso instintivo. A vela que estava acesa apagou-se e a escuridão tomou conta do quarto. O impulso que me moveu ali só urge em momentos em que estou dormindo, nos demais pareço homem.
Gostaria de ser somente animal, desprovido de consciência, assim o instinto faria parte de mim em todos os momentos. Desse modo eu poderia esmurrar qualquer idiota que me assustasse no caminho. Para fins didáticos esmurraria os últimos personagens da semana, que me surpreenderam (ainda me iludo por milésimos de segundo tentando negar minha intuição) com um comportamento de merda, completamente adequado a mediocridade local. Tal fato não contribui para que eu perca as nobres esperanças que carrego de um dia mandar todos os imbecis, sem nenhuma exceção, dar um passeio num lugar de onde possivelmente devem ter saído e do qual nunca deveriam ter se ausentado.
Irritada como fiquei nem pude racionalizar direito, nem consegui pensar noutra coisa que não fosse essa tal realização dita acima. Um desejo insano de matar cresce a cada dia, infelizmente existe em mim um SUPEREGO que não fomenta tais aspirações para o então fim último dos meus habilidosos pensamentos de morte.
O cachorro da miséria que me fez acordar num sopapo, foi o mesmo que me fez ir dormir profundamente. O cachorro da delinqüência, o cachorro da imbecilidade humana, aquele que nos permite ir além do que nós mesmos achamos que podemos ir, esse cachorro é o que me desperta nos dias de fúria, mas que eu adoraria que estivesse comigo sempre.
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