Aqui já usei quase todo o meu repertório masoquista e desfiz boa parte das minhas ideias comunistas. Esse espaço é meu, mas desejei compartilhá-lo com o mundo, se você faz parte dele...Então seja muito bem vindo(a)!

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Exatamente

Sempre gostei de brincar com as palavras, uma coisa engraçada é que para tudo na minha vida há sempre um sempre e sempre é uma palavra tão forte e tão real pra mim. Além do sempre ocorreu-me agora, num lapso, num devaneio desses que me dá assim sem hora, que também há um oposto trágico que me acompanha. Neste caso, o oposto da adorada brincadeira com as palavras, é o horror que tenho pela matemática.

Horror daqueles monstruosos, dos quais temos mesmo que nos esconder pra sobreviver ao ataque do pior dos inimigos: o medo de ser diminuído por ver sua condição de imperfeito. Oh céus, descobrir que sou um “deus que caga” é terrível! Mas vejamos de onde me surgiu esse terror.

Recordando o início de minha vida acadêmica...tenho péssimas lembranças da atuação de estudante nesta disciplina, isso porque nunca achei a menor graça naqueles quadrados todos, nunca achei o mundo quadrado, losangular ou vi alguma coisa de espacial na minha frente. Na verdade tinha uma enorme dificuldade para imaginar coisas além do espaço palpável. Não tenho visão espacial, nunca tive de fato, talvez por isso tenha tanto desejo de tirar a carteira de habilitação. Quero provar pra mim mesma que isso é apenas um bloqueio, ou sei lá o que se pode nomear sobre isso.

Até consigo me sobressair em situações de extremo risco, em acidentes já consegui a façanha de me enfiar num baú estreito para fugir de uma boa surra. Mas coisas desse gênero eu considero como instinto, algo inato da minha condição de sobre-humana. Lembro-me certa vez já perto de concluir o ensino médio, no segundo ano se me recordo bem, que passei de uma hora para outra a gostar de trigonometria, isso porque o professor era absurdamente rápido e sua agilidade me deixava feliz, a tal ponto que fui enfeitiçada por ele e acabei por me “apaixonar” temporariamente pela então disciplina odiada.

O fato é que foi marcante para mim, nunca fiz a menor questão de estudar matemática até porque achava que somar, subtrair, multiplicar e dividir eram basicamente tudo que deveríamos aprender da matemática enquanto seres humanos, as demais contas eram esdrúxulas, desnecessárias e deveras cansativas para nós míseros estudantes indecisos da vida. Quando então percebi essa nova paixão, por triste coincidência percebi-me também ao lado daqueles seres que sempre intitulei de bizarros por amarem tal ciência. Um desses seres permanece no meu vínculo de amizades até os dias de hoje e se encaminhou pobre coitada, no mundo das disciplinas exatas.

Toda a exatidão que tive se resumiu aquela fase, aquela estranha fase em que eu copiava freneticamente todo o conteúdo da lousa, fato inédito até então. Uma daquelas alunas chatas que se sentam na frente e soltam piadas o tempo inteiro de assuntos pertinentes as palavras, que fazem trocadilhos do além-aula, aquelas piadinhas que só quem ri além da comediante, são os professores e os idiotas dos amigos que não querem estragar a amizade. Uma daquelas alunas que ninguém discute literatura sem ser no mínimo indiciado a ler uma enxurrada de livros; uma daquelas alunas que defendem Machado de Assis à Eça de Queiroz a ponto de sair nos tapas; uma daquelas insuportáveis alunas que admitem não saber viver sem escrever ao menos um texto sensacional, não sabem respirar direito sem ler algo que lhes tire o sono, a própria respiração ou mesmo sua alma.

Sim, eu fui essa aluna. Eu nunca gostei de matemática e declaro aqui para todos abertamente que a única fase em que tudo foi exato foi aquela em que fiquei perplexa porque descobri que além de uma semianalfabeta matemática eu não sabia como tinha passado por média em todos aqueles anos escolares, aí então percebi o quanto a matemática é reducionista...e foi aí que encontrei a filosofia, e claro...a física quântica para me enlouquecer afirmando que 2+2 não são 4!

3 comentários:

  1. Adorei esse texto 1
    Ele além de muito bem escrito,o que não nenhuma novidade vindo de você,é uma leitura alegre e muito leve.
    Máximo !

    ResponderExcluir
  2. Haa... pensei que nao ia falar da física..eu ja ia lhe dedurar aqui! kkkk. adorei o texto! beijao amiga!

    ResponderExcluir
  3. Comentar qualquer texto de Lea é um erro. Sentimento não se explica. Só me resta a admiração.

    ResponderExcluir