Nas silenciosas horas de sono de todos é
que se mantinha acordada, foi assim durante a parte mais tumultuada dela, a
adolescência. Enquanto todos estavam despertos e realizavam seus afazeres, ela
simplesmente dormia.
Nas demais horas era que se deixava ser, e
ia sendo nos desesperos da madrugada. Levantava à noite e começava a labuta
atormentada pelos textos que latejavam na sua cabeça e pediam ofegantes para
sair. Ela já nem resistia mais, se despia de toda raiva no papel e permitia que
os conteúdos outrora hesitantes, saíssem lentamente. Quando dava por si já era quase de manhã e
seu texto assim como ela, ainda estava por vir.
E dava duro no processo de lapidação.
Por vezes se assustava com o que encontrava e realmente pensava que dentre tantas palavras, as escolhidas eram sempre cuidadosamente tolhidas pela dor.
Porque era com muita revolta que escrevia,
talvez fosse para aliviar a si, talvez para tumultuar o outro...mas na maioria
das vezes era apenas para se salvar da agonia que tanto lhe afligia.
E só descobriu o valor disso quando finalmente se viu só. Quando abriu seu caderno de segredos e percebeu que seus textos sempre lhe falavam a mesma coisa: você precisa ser.
Ser sozinha, além do que esperam de você.
Nunca foi tarefa fácil Ser num mundo onde muitos apenas fingem existir. E quando se cresce sendo a promessa de alguma coisa que você nunca desconfiou poder escapar, é que tudo pode ser pior. Mas a vida tem lá suas surpresas e finalmente um dia ela pode ser.
Ser uma heroína (a droga mesmo) com todos os efeitos adicionais que um opióide pode causar. Por várias vezes fugindo da realidade, claro...Com excessivos e irregulares ciclos circadianos, seu cérebro já nem sabia que horário era o certo, ela quem sofregamente decidia.
Mas o pior ela sabia. O pior era permanentemente sentir a terrível apatia por seres aparentemente humanos que estavam sempre de bem com a vida. Ah, esses ela abominava e nem disfarçava a rispidez do olhar. A isso ficaram as fotografias da turma para comprovar.
Sempre foi só, e as pobres criaturas que aturou e a aturaram eram tão sozinhas quanto ela. Por motivos diversos nunca fez questão de mudar, sempre achou que sozinha era mais que toda a merda do universo, e arrogâncias à parte, na adolescência ela era.
Estudou numa escola de classe média cuja composição de alunos se dividia entre os bolsistas e os pedantes filhinhos de papai, onde a principal função era basicamente a mesma: exercerem o estereótipo de adolescente tão em alta no momento.
E como aquilo a irritava!
Entre a revolta que a vida lhe infligia e a dor de ser o que não se é, ela construiu uma muralha a sua volta com um código secreto para a entrada de estranhos.
Era preciso mostrar mais do que aparências.
Porque tudo aquilo era uma violência, e por questão de sanidade ela precisava manter a sua. Tempos depois pensou no quanto tudo lhe foi útil, e assim resolveu não dispensar a muralha após o término do longo percurso.
O ensino que era médio foi mais do que superior.
Sua aprendizagem ali foi para toda a vida e somente depois de fixados os laços entre os que conheceu foi que reconheceu a finalidade e o que a vida realmente dá aos que lhe são honestos.
Os amigos, a esses ela afirma que permanecerão sempre consigo.
Por quê?
Porque descobriu que o difícil não é ser,
mas ser e existir aqui sem o mínimo de lealdade a quem um dia te fez sorrir.
(Aos amigos, o único tesouro que
tenho)
Muito orgulhosa, viu? Saudade das conversas contigo. ^^
ResponderExcluirÔ que bom! :)
ResponderExcluirEu tbm, pq sempre me dão a impressão de que alcançaremos nossos sonhos. ^^