Andava pela estrada serenamente, sozinha caminhava a passos lentos e pensando no que haveria de fazer com aquela vida que teria de levar por mais um tempo.
A solidão que a carregava para o isolamento teria sido mais forte não fosse as mãos daqueles que costumava chamar de amigos. Sim, os amigos mesmo distantes se tornam ainda mais presentes nos momentos de crise.
Estava em crise, mais uma das tantas crises existenciais pelas quais passou. Esta última surgiu sobretudo de sua incansável reflexão a respeito do seu próprio mundo e de todas as coisas que o cercavam. Ela não acreditava mais estar em crise, acreditava ser a própria crise. Mas sorria, não se incomodava mais, não sentia mais, nada...nem dor nem prazer, nem alegria nem tristeza, nada, ela não sentia mais nada!
Sim? E o que dizê-la nesta hora tão amarga?
Não poderiam, as palavras não mais possuíam poder para. Transformação? Ela desconhecia o significado desta palavra. Realidade? Só uma, a de que ela sofria. De um sofrimento inexplicável e imensurável. Sofria por esse estranhamento, sofria por não suportar ver tantos peixes reunidos num mar raso e poluído. Sofria porque não era igual e sabia ser impossível tornar-se.
Sofria, ela sofria.